O presidente Lula, ao sancionar a lei do Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado na última segunda-feira, disse o seguinte: “Ele (o brasileiro) não levanta o traseiro do banco, ou da cadeira, para buscar um banco mais barato. Reclama toda noite dos juros pagos e no dia seguinte não faz nada para mudar”.
A declaração de Lula me deixou indignado. O Presidente da República não tem o direito de ser deselegante, grosseiro e mal educado dessa forma. Ele deve respeitar a população. Não pode acusá-la de “não levantar o traseiro” na defesa de seus direitos.
Além de deselegante, a afirmação é irresponsável. O Presidente Lula tenta transferir para o povo a responsabilidade pelas altas taxas de juros, como se o governo não tivesse nenhuma culpa no cartório. Todos sabemos que isso é falso. Por isso, essa indignação nacional com suas palavras.
Não adianta o cidadão sair à procura de taxas de juros mais baixas porque elas simplesmente não existem. E não existem por culpa do governo, que não exige do Banco Central uma taxa Selic mais baixa, não cobra dos bancos públicos e privados uma redução dos juros cobrados no cartão de crédito, no cheque especial, nos empréstimo em consignação etc.
Se os bancos públicos, como o Banco do Brasil e a Caixa Econômica, cobram taxas de 7% ao mês no cheque especial, como pedir que os bancos privados cobrem menos?
O Presidente Lula manda-nos „levantar o traseiro da cadeira‰ por taxas de juros mais baixas, mas ele, como chefe de governo, não „levanta o seu traseiro‰ e continua a pagar os juros obscenos cobrados pelos bancos? Quando o Banco Central aumentou a taxa básica de juros de 19,25 para 19,50%, semana passada, o presidente levantou o traseiro para se inteirar do assunto? Não.
Lula deve levantar o traseiro da cadeira, reconciliar-se com a ética e mandar investigar os casos de corrupção de seu governo. Deve tirar o traseiro da cadeira e permitir que a Polícia Federal, que deveria ser republicana, conclua as investigações sobre Waldomiro Diniz.
Lula deve levantar o traseiro da cadeira e, como homenagem a seu ex-coordenador de campanha Celso Daniel, mandar apurar pra valer a corrupção e os assassinatos de testemunhas em Santo André.
Deve exigir do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, explicações convincentes sobre seu envolvimento com doleiros, a evasão de divisas promovida pelo Bank Boston e sobre a lavagem de dinheiro que realizou utilizando as empresas Silvânia One, Two e Empreendimentos. E a população deve atender o Lula, levantar o traseiro, sair às ruas e exigir no mínimo decência na gestão do Banco Central do Brasil
Lula deve tirar o traseiro da cadeira e, em lugar de fazer qualquer negócio pela sua reeleição, substituir o ministro da Previdência, Romero Jucá.
Mas Lula precisa também colocar o traseiro na cadeira de Presidente da República e, como Presidente de fato, apurar quem usou dinheiro do Fundo de Combate a Pobreza para promover encontro de gays em Salvador. (Nada contra os gays, mas dinheiro da Pobreza é para os pobres.)
Se Lula quer efetivamente baixar os juros, basta ele exercer a Presidência da República e demitir o presidente do Banco Central e outros representantes dos banqueiros internacionais que hoje estão na diretoria da instituição.
Enfim, já é hora de Lula pensar um pouco e admitir que mais uma vez errou, ao usar uma linguagem chula no exercício do cargo de Presidente. É hora também de Lula falar menos. Como brasileiro, fico com vergonha de ver o Presidente do meu país falando asneiras por onde passa. Ele já revelou ser filho de „uma mulher que nasceu analfabeta”, como se todos nascessem alfabetizados. Num discurso, afirmou que, „como governo, deve tentar fazer o simples, porque o difícil é difícil”, numa inequívoca constatação do óbvio. Em Nova Iorque, Lula disse que o Brasil só não faz fronteira com o Chile, Equador e Bolívia, esquecendo os três mil quilômetros de nossa fronteira com a Bolívia.
O Lula, com suas frases, já conquistou lugar de destaque na galeria do besteirol nacional, ocupando espaços tradicionalmente reservados aos humoristas, aos cômicos e palhaços. Está na hora de ele colocar o traseiro na cadeira, ocupar o espaço de Presidente e começar a governar.
Antero Paes de Barros é jornalista, radialista e senador pelo PSDB-MT
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