Foi em 1986 que tive o privilégio de ser professor do, hoje, médico Aray. Sua família se mudara para Cuiabá no início de 85. Seu pai ainda mantém o consultório dentário ali na rua Antônio Maria. Menino polido e de conversa fácil, Aray fez-me, rapidamente, amigo da família. Dona Esmeralda sempre recebeu muitíssimo bem os amigos dos filhos. Seus irmãos Marco Aurélio e o “Branco”, também ex-alunos meus, são excelentes médicos. O motivo dessas informações é dizer que sou amigo do médico Aray Fonseca e como tal acompanho sua vida e sua carreira: primeiro colocado na residência em hematologia na UERJ, primeiro médico a realizar, e com sucesso, um transplante de medula óssea no Centro-Oeste, possui uma vasta clientela e têm pacientes até de outros estados. Enfim, uma carreira marcada pelo sucesso terminou culminando com uma solidez econômica como poucos. Agora, Aray é o secretário de saúde de Cuiabá e, parece-me, que já começa a incomodar pelo zelo e pela competência.
Sem cair na vala comum dos números, vejamos uns poucos para que sirvam de ilustração: A mortalidade no pronto atendimento clínico do Pronto Socorro despencou de 50 óbitos por mês para apenas 5, isso devido à implantação da pré-consulta e da instalação da sala para atendimento de urgência que possui médicos especializados em atendimentos de casos graves. Foi implantado na saúde bucal o plantão noturno e em seu primeiro mês de funcionamento foram atendidas 869 pessoas. Não há falta de remédios nos postos de saúde e o atendimento à população cresceu assustadoramente (exames laboratoriais: 22.015 em dezembro para 82.365 em março). Em dezembro, 60% das vagas para médicos no pronto atendimento estavam disponíveis e 80% das da pediatria porque os salários, além de baixos, estavam há vários meses em atraso gerando conseqüentemente um pequeno número de atendimentos e com sua qualidade sensivelmente comprometida. Foram apenas 1399 no pronto atendimento e 699 na pediatria. Já em março, com todas as vagas preenchidas, os atendimentos saltaram para 4035 e 1660 no pronto atendimento e na pediatria, respectivamente. Em relação aos salários, todos tiveram aumentos: o médico cirurgião, com a produtividade, sai de R$ 2.400,00 para R$ 3.900,00 e uma enfermeira que ganhava R$ 700,00 receberá R$ 1.000,00 já no salário de abril.
Tive o cuidado de ligar para o amigo Aray logo que li o artigo “Matemática e o conceito de saúde” do meu não menos amigo Kleber Lima e pedi as explicações que julguei necessárias e os dados pertinentes ao caso. Analisei as circunstancias e resolvi sair em defesa do secretário mesmo sem o seu consentimento.
Quando Kleber diz que duas coisas estão definitivamente claras, discordo. Todavia não quero pautar a discussão dentro de um prisma relativista que pouco ou nada acrescentaria à celeuma. Quero, antes, centrá-la na objetividade cristalina da afirmação do amigo jornalista: “Não é função de órgão público algum ter sobra de caixa”. E não é mesmo, porém o que se tem não “sobra de caixa” e sim o uso criterioso do dinheiro público. Veremos que ao final do exercício fiscal, o dinheiro terá sido todo gasto com a saúde pública. O gestor Aray não quer terminar o ano com milhões na conta da saúde, mas quer terminar o ano com os melhores índices que a nossa saúde puder apresentar. Desde a ação mais simples como a de um curativo (dezembro, 204 curativos; março, 471 no CPA I) a intervenções cirúrgicas de alta complexidade.
Assim, mesmo comprando remédios para diabetes e hipertensão que deveriam ser enviados pelo governo federal, renegociando contratos dos mais variados tipos como os de limpeza e o de fornecimento de carne, baixando o custo de medicamentos e, mesmo aumentando os salários, melhorando a gestão de pessoas e ampliando, em todos as modalidades, o atendimento, Aray consegue melhorar significativamente a saúde da população cuiabana e, ainda, ter dinheiro em caixa. Continue, Aray, a nos desconcertar, a nos incomodar com sua franqueza, com sua honestidade, com sua competência e essa vontade de sempre fazer o melhor, o povo cuiabano agradece. E como diz o título do artigo: “A virtude, posta à prova, floresce”.
Sérgio Cintra é professor em Cuiabá e Várzea Grande.
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