Eleição decidida; próximos quatro anos com presidente petista. Como serão? Será preciso perguntar à bola de cristal? Ou apenas projetar nestes próximos quatro os catorze já passados e conhecidos? Para 60 milhões de eleitores, os 14 anos já não contam; ou sequer lembram ou não querem lembrar. Na época, eram crianças ou adolescentes, 21 milhões de eleitores de hoje. Muitos outros ainda só recebem notícia de uma única fonte – a fonte que lhes mostra a sua versão dos fatos. Assim decidimos os próximos quatro anos. Aparentemente, não serão fáceis para o presidente eleito. A Câmara de Deputados está com 73% de centro-direita e o senado, com 67%; além disso, a maior parte dos governadores foi eleita pelo grupo que apoia o presidente que sai.
O presidente que entra vai receber um raro legado, longe da “herança maldita” de outros tempos. Inflação e desemprego em queda, PIB, arrecadação federal e investimentos em alta, balança comercial superavitária, endividamento público em baixa, otimismo entre empreendedores, credibilidade do governo, impostos em baixa, obras de infraestrutura por toda a parte, inclusive água para o Nordeste e ministérios e estatais imunizados de partidos políticos – uma grande oportunidade para o novo chefe do governo, se estiver de bem com a maioria centro-direita do Congresso.
O Senado ainda precisa empurrar o Supremo de volta ao segundo artigo da Constituição, para que o tribunal deixe de ser também legislador e constituinte. Não vai adiantar simplesmente tirar ministro, a menos que o novo presidente indique realmente juízes e não advogados com causa. A judicialização da política, lamentada no discurso de posse de Fux, mostra que o tribunal ficou entre dois fogos, por não se manter acima da fogueira das vaidades. Primeiro, é acusado de contribuir para tirar o PT do poder; hoje, é acusado de contribuir para tirar Bolsonaro do poder. Ativismo não é próprio de juízes. Juízes são isentos por natureza; já a natureza de advogados é defender causas. Fazer o Supremo abandonar o ativismo é um desafio para os poderes com mandato popular.
Numa eleição de 124 milhões de votos, decidida por pouco mais de 2 milhões de eleitores, mostra duas metades e destaca o quanto o não votar pode ser decisivo. 32 milhões de brasileiros deixaram que os outros decidissem. Não há como não lembrar de Pilatos, que lavou as mãos enquanto o povo optava por quem seria libertado ou crucificado.
O eleito leu um belo discurso após o resultado. Bonitas palavras, como discursos do século passado – ser um presidente de todos, por exemplo. Nada encontrei entre as palavras a intenção de prevenir a corrupção, nem uma disposição sobre o teto de gastos, a conquista do equilíbrio fiscal aprovada no período Temer. Das palavras ditas, resgatei a afirmação de que o crescimento econômico será repartido entre toda a população. Anunciou a volta das “conferências nacionais” da esquerda e avisou que vai refazer tudo: “é preciso reconstruir este país na política, na economia, na gestão pública, nas relações internacionais”- um indicador da volta daqueles 14 anos de PT. Acentuou que ninguém está acima da Constituição – parece recado ao Supremo. Chegou a falar no “orgulho que sempre tivemos do verde e amarelo da bandeira”… mas uma parte sincera do discurso foi a afirmação de que a eleição “colocou frente a frente dois projetos opostos de país.” Agora um projeto vai se opor ao outro. Se o Congresso permitir.
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Futuro em jogo
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Alexandre Garcia
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