Em meio a possíveis desabastecimentos de fertilizantes no Brasil, por conta da guerra entre Rússia e Ucrânia, o presidente da Associação do Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Fernando Cadore, destacou a necessidade de desburocratizar o sistema de licenciamento no Brasil. “Precisamos desburocratizar o sistema de concessão e de licenciamento dessas jazidas de recursos minerais com potenciais para o uso de fertilizantes no país”, enfatizou.
O presidente da Aprosoja-MT destaca que a dependência brasileira poderá ser sentida pelos consumidores nas gôndolas dos supermercados em pouco tempo, com altos preços e até desabastecimentos. “O Congresso Federal precisa agir rápido, é momento de deixar as ideologias e se preocupar com o futuro e a alimentação das pessoas, se o Brasil não agir rápido poderá acontecer escassez de alimentos, inflação e desemprego”, afirmou.
Cadore destacou também que a dificuldade é que o Brasil depende das importações de insumos, como fosfato, cloreto de potássio e ureia, por exemplo. “Fica o apelo às autoridades federais, em especial o Congresso Nacional, uma vez que o país já deveria ser autossuficiente em fertilizantes, mas ainda existe muita burocracia. O impacto desse custo poderá gerar inflação ou falta dos alimentos, uma vez que direta ou indiretamente esses grãos servem de proteína animal ou para o consumo direto”.
De acordo com o presidente da Aprosoja-MT, a balança comercial brasileira depende dos setores da agricultura e pecuária nos últimos anos. “É um momento de apreensão, precisamos aguardar os desdobramentos para não entrarmos em movimentos especulativos”, alertou.
Segundo a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), de janeiro a julho de 2021, dos 23,8 milhões de toneladas de fertilizantes entregues aos agricultores, 20 milhões de toneladas foram de produtos importados e 3,8 milhões de toneladas produzidas nacionalmente.
Conforme Só Notícias já informou, outra entidade que se manifestou sobre o assunto foi a Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa). “A luz vermelha acendeu com a guerra. O presidente Jair Bolsonaro esteve na Rússia para garantir o fornecimento de fertilizantes, principalmente cloreto de potássio. Agora, tudo virou uma incógnita e a gente já viu o Putin dando declarações de que não vai mais vender fertilizante para o Brasil”, avaliou o presidente da associação, Paulo Sérgio Aguiar.
O dirigente explica que as medidas que a Europa, os Estados Unidos e outros países estão querendo impor por meio das Organização das Nações Unidas (ONU) também afetam a comercialização de fertilizantes. A Rússia, por exemplo, já foi retirada do Swift, um sistema que padroniza as informações financeiras, permitindo a negociação entre empresas de vários países. “Isso significa que não temos como pagá-los para receber no Brasil. Somente em 2021, o país consumiu mais de 45 milhões de toneladas em fertilizantes. Deste total, apenas 6,5 milhões de toneladas foram produzidos dentro do nosso território, o restante importado, sendo que mais de 8 milhões vem da Rússia”, pontua.
Sem fertilizantes, o custo de produção agrícola no Brasil aumenta exponencialmente, podendo, até mesmo, tornar inviável alguns cultivos e faltar alimentos na mesa do consumidor. Somente em 2021, o preço médio do cloreto de potássio (KCL) subiu de U$ 320 a U$ 340 para mais de U$ 950 a U$ 1 mil. A ureia na safra 19/20, que antes estava na casa dos U$ 360, ultrapassou os U$ 725.
“Daqui a pouco também vão aumentar as sanções para o Belarus, outro grande fornecedor de fertilizantes. Além disso, alguns navios mercantis estão sendo bombardeados. Pelo menos cinco navios no Mar Negro foram atingidos. Desta forma as empresas não querem mais mandar navios para essas regiões”, acrescenta.
Quanto às alternativas para o setor produtivo de Mato Grosso, ele avalia que “é uma questão muito difícil. A única alternativa que nós temos, e não é para 2022, é começar a pensar na exploração das minas de potássio em Autazes, no Amazonas, e acelerar a produção e exploração das minas de fósforo no Brasil. Outro ponto é a Petrobras voltar a produzir através do gás natural o nitrogenado”, aponta. “Nós estamos sentados numa das maiores minas de cloreto de potássio do mundo, mas não estamos explorando um quilo sequer por problemas no licenciamento ambiental”, finaliza, através da assessoria.
Outro efeito da guerra foi a alta no petróleo, que já ultrapassou os US$ 110 por barril.