O presidente do Sindicato Rural de Sinop, Ilson José Redivo, disparou, em entrevista, ao Só Notícias, que a ‘insistência’ do Ministério Público do Estado e do Ministério Público Federal, em manter o calendário do plantio de soja, causa estranheza nos produtores e entidades do setor. Ontem, o MP e MPF expediram notificação conjunta para a secretaria de Desenvolvimento Econômico (Sedec) e ao Instituto de Defesa Agropecuária do Estado de Mato Grosso (Indea) recomendando a manutenção como medida para a prevenção da ferrugem asiática na cultura da soja.
A notificação dos órgãos se deve a portaria, de setembro, do ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento que instituiu o novo Programa Nacional de Controle da Ferrugem Asiática da Soja, estendendo o prazo para produção da semente (pela norma estadual, o calendário vai de 16 de setembro a 31 de dezembro, enquanto o ministério estendeu 34 dias, sendo de 16 de setembro a 3 de fevereiro).
Os debates sobre as datas se estendem desde 2015, quando houve a criação da instrução normativa, dispondo calendarização do plantio. De lá para cá, Redivo destacou que produtores, através de fundações, já realizaram pesquisas científicas e têm embasamentos suficientes para garantir que o plantio em fevereiro é mais viável.
“O produtor também tem expertise, de 30, 40 anos que planta soja e sabe que em dezembro não adianta plantar, porque não colhe. Pegamos 30 dias de janeiro que é só chuva, e não controla as doenças. Então para a soja plantada até 31 de dezembro, é necessário fazer de oito a 10 aplicações de inseticidas e não controla a ferrugem. Por isso a gente vem buscando essa alternativa da produção de sementes no mês de fevereiro”.
O presidente ainda apontou que o MP e MPF não tem estudos sobre a questão e salientou que ‘parece haver outros interesses por trás’. “Quem fez pesquisa foram os produtores, três anos de estudos, e esses resultados têm base científica. O MP defende interesse dos grandes sementeiros, só pode ser isso, tem outro interesse por trás para eles insistirem tanto em manter a data de plantio. Nós produtores rurais não entendemos o motivo dessa insistência, ficamos abismados. Eles não estão embasados em dados científicos. Nós estamos falando com propriedade, e é estranho defender com tanta veemência o retrocesso de voltar para dezembro”.
Entre as alegações de Redivo para seguir o calendário do ministério da Agricultura está a economia que pode ser gerada aos produtores com armazenamento. Levando em consideração, por exemplo, que o ciclo da soja varia de 90 a 100 dias, se o plantio for em 31 de dezembro, a colheita será em meados de abril. Já a nova plantação, após o vazio sanitário, será a partir de 16 de setembro do mesmo ano, ou seja, a soja deverá ficar armazenada por mais de cinco meses.
“Em Mato Grosso, cerca de 43% dos produtores tem área abaixo de 1,5 mil hectares, são considerados pequenos e médios. Se elevar até 3 mil hectares, temos 63% dos produtores. São agricultores que tem dificuldade em ter uma estrutura para armazenar a semente, uma câmera fria, peneira para classificar esse grão, são equipamentos que que têm custos, então é mais difícil de diluir”, ponderou.
Já se fosse seguido o calendário de fevereiro, a colheita seria entre metade de maio e início de junho, bem como precisaria contar com menos aplicações contra a ferrugem. “Estamos ganhando mais de 30 dias que essa soja não precisa ser armazenado, vai sofrer menos interferisses se ficar embaixo de um barracão não aclimatado para as condições legais de conservar a semente.”. “Outro fator importante é que se eu plantar em dezembro, tenho que fazer o dobro de aplicação contra a ferrugem. Não justifica todas as alegações dos ministérios, de que vai acabar a resistência dos fungicidas. Muito pelo contrário, fevereiro tem a época mais propícia, com menos intensidade de chuvas”, completou.