Mais de 60 mil brasileiras são diagnosticadas com câncer de mama anualmente. Embora exista uma maior propensão de a doença se desenvolver em mulheres com mais de 50 anos, está se tornando cada vez mais comum as mulheres mais jovens, com menos de 35 anos, serem afetadas.
Como parlamentar e médico, avalio que este é um sinal de alerta para as mulheres, que precisam estar atentas e fazer os exames preventivos regularmente. Também é motivo para o Sistema Único de Saúde (SUS) se reorganizar para atender esta demanda crescente de pacientes.
Não adianta falar sobre ações preventivas durante a campanha do Outubro Rosa, ou seja, uma vez ao ano, quando sabemos sobre a importância do acesso a exames de forma rápida e humanizada no cotidiano. Em se tratando de câncer de mama, o diagnóstico precoce é decisivo para curar e salvar vidas.
Embora o rastreamento seja oferecido a mulheres com 40 anos ou mais para a detecção precoce do câncer de mama, não é feito para mulheres com menos de 40 anos, a menos que sejam sabidamente de alto risco. Enquanto isso, o perfil de pacientes vem mudando.
Se historicamente a incidência da doença era menos de 2% na faixa etária abaixo de 35 anos, atualmente, pesquisas já apontam para um percentual superior a 4% dos casos. Este fenômeno está sendo observado não apenas no Brasil, mas também em vários outros países em fase de desenvolvimento.
Entre os aspectos associados aos fatores de risco, que têm relação com estilo de vida, estão: menor número de filhos, gestação tardia, alimentação inadequada, associada à correria do dia a dia, sedentarismo, tudo isso pode estar influenciando essa mudança de aparecimento de tumores de mama em mulheres mais jovens.
O câncer de mama é o mais incidente em mulheres no mundo, com aproximadamente 2,3 milhões de casos novos estimados em 2020, o que representa 24,5% dos casos novos por câncer em mulheres.
Sabe-se que é uma doença muito variada, com alguns subtipos e perfis, com agressividade diversa e requerendo tratamento individualizado. É comum ouvirmos pessoas dizerem que os tumores em mulheres mais jovens são sempre mais agressivos, porém, isso não é uma verdade absoluta.
Ainda que mais raros, existem tumores de crescimento lento em pacientes jovens e casos agressivos ocorrendo em mulheres mais velhas. O que acontece é que a frequência de tumores mais agressivos é maior entre as mulheres mais jovens.
Por estarem fora do grupo de rastreamento (exame periódico com objetivo de detectar os tumores precocemente) e pela maior recorrência de tumores mais agressivos, o diagnóstico é, em média, feito em um estágio mais avançado quando comparado às mulheres que têm um diagnóstico mais tardio.
Existem algumas outras particularidades a serem consideradas ao se diagnosticar câncer de mama em uma paciente jovem: maior risco de lesões mamárias difusas e de que a paciente seja portadora de mutação genética que predispõe ao câncer. Tratamentos cirúrgicos mais extensos ou tratamentos mais agressivos em geral não são indicados nessa faixa etária.
É fundamental que pacientes mais jovens sejam aconselhadas sobre as formas de preservar a fertilidade para retomar o planejamento da maternidade após o término do tratamento do câncer. De qualquer forma, precisa haver uma pauta na individualização no diagnóstico e tratamento, caso a caso.
Precisamos ter o cuidado em usar os eficientes recursos disponíveis para tratar o tumor, sem que o tratamento seja mais prejudicial que a própria doença. Por esta e outras razões, sou um defensor do SUS e da interiorização da medicina, para que todas tenham acesso.