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O tubarão e a bactéria

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Em meu artigo anterior, afirmei que a arma de fogo não é necessária quando o cérebro está armado de ódio, ressentimento e tendência suicida. Pois a matança continuou com faca. No Japão, idosos e deficientes físicos foram eliminados a facadas por um jovem que era funcionário da clínica onde estavam internados. Na França, outro jovem matou a facadas um padre dentro da igreja. Os atacantes, em geral, fingem motivação religiosa e o Estado Islâmico rapidamente assume o atentado, para fazer a propaganda de que está em todo lugar. Se é preciso vedar as armas de fogo para evitar mortes, então será preciso proibir as facas. Quando usarem paus para matar, vai ser preciso isolar as árvores; por fim, quando usarem pedras, será necessário varrer o planeta de todos os minerais. Minha colega, quando comentei isso, foi direto ao ponto: para resolver, será preciso proibir as pessoas de existirem. Ela percebeu o que eu demonstrava: a raiz da violência está nas pessoas, não nos objetos.

E no mundo dos selfies, em que as pessoas não se importam em agir de modo ridículo para serem personagens dos lugares e dos fatos para exibirem aos outros, alguns  em tal grau de desequilíbrio até trocam a vida por instantes de celebridade. Insisto: à medida em que publicamos nome, foto, biografia e depoimentos sobre o autor do último atentado, estamos excitando um anônimo e estimulando o próximo ataque. Ele busca o paraíso, não lotado de virgens, mas cheio de manchetes e destaque na TV e no rádio. É o seu grande momento pós-morte. 

Enquanto isso, aqui na América do Sul, nosso país começa a olimpíada sem sequer ter preparado alojamento para os atletas. Literalmente, só metade da vila olímpica estava pronta quando delegações desistiram do alojamento e foram para hotéis. Os holandeses, prevenidos, entraram de rodo e material de limpeza em geral. Só a delegação brasileira gostou porque, afinal, já estamos acostumados com fios desencapados, vaso sanitário entupido, água escorrendo pelas paredes, vazamento de gás, sujeira no chão…O queniano aceitou, mas mandou um bilhete amistoso para consertarem o banheiro dele. Tomara que nos ensaios sobre a segurança, não se repita o que acontece na parte de hospedagem. Porque na hora do pra valer, tem que funcionar.

Se eu andar pelo Rio com olhos de japonês, alemão, australiano, sueco ou holandês, fico neurótico. Sujeira, barulho, bagunça, desordem urbana – essas mazelas sempre camufladas pelas belezas naturais. Algumas dessas belezas bem destruídas: os morros de mata atlântica já cobertos de favelas, a baía da Guanabara poluída e com lixo e as famosas praias, como a princezinha do mar, aqui bem abaixo de meu quarto de hotel, contaminadas com a superbactéria KPC, encontrada em cinco praias pelos pesquisadores da Universidade Federal do RJ. Como o prefeito de Amity Island, no filme de Spielberg Tubarão(Jaws), os pesquisadores, às vésperas dos jogos olímpicos, dizem que não há razão para alarme. As autoridades também dizem que não há razão para alarme sobre terrorismo nos jogos. Mas quando perderam os 12 aspirantes a Estado Islâmico, fizeram um alarme danado, querendo aparecer, como os das selfies postadas nas redes sociais.

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