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Sem direitos humanos

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A polícia de Brasília acaba de apreender quatro adolescentes que assaltavam ônibus, armados de facas. Os policiais fizeram as contas com depoimentos de passageiros roubados e concluíram que eles praticaram no mínimo 50 assaltos. Isso acontece em outras cidades brasileiras, grandes, médias e pequenas. E vão continuar assaltando, porque só podem ser “apreendidos” e são soltos logos depois, para continuar no crime, que a lei brasileira manda chamar de “ato infracional” – um primor de exemplo da hipocrisia da tal praga do politicamente correto. O menino que esfaqueou e matou o médico que pedalava na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio, tinha sido apreendido cinco vezes antes disso. A ex-mulher do médico morto fez uma primorosa declaração: “Os meninos que mataram meu ex-marido são tão vítimas quanto ele.” Por causa de gente como ela é que estamos reféns dos criminosos. Mais um pouco e gente como ela vai dizer que merecemos ser assaltados e mortos, numa execução de sentença da suprema Justiça Social.

Se eu ainda tivesse dúvida quanto à questão da maioridade penal, ainda que a maciça maioria já tenha se manifestado, a dúvida se desvaneceria na semana passada, quando Chico Buarque vestiu uma camisa com dizeres contra a redução da idade penal. Deve ser por uma lógica: se pode eleger presidente da República, também pode cometer crimes. Crimes como os muitos praticados ultimamente com arma branca. A faca é, em geral, mais temida;  quem a usa para o crime é mais cruel. É preciso chegar perto, olhar nos olhos da vítima, ver o sangue se esvaindo da carne cortada, perfurada. Num tiro, o projétil quente cauteriza a perfuração. A faca expõe vísceras e deixa a vítima sangrando muitas vezes de modo inevitável, até a morte. 

Nesses últimos dias, além do médico morto, foi atacado um compositor de 55 anos, o Naval, no centro do Rio; uma turista chilena, uma senhora em São Conrado; dois presidiários foram decapitados por outros detentos numa prisão baiana; estudantes foram esfaqueados no caminho da escola em Brasília – uma sucessão interminável de crimes com faca. A faca é uma arma, além de utensílio de cozinha. Uma pistola também é uma arma. Ambas têm algo em comum. A faca e a pistola não matam. É quem as porta que pode matar, ou se defender, ou cortar um churrasco, ou fazer tiro-ao-alvo. O cérebro que dá ordens à mão é o autor da morte. O cérebro pode mandar a faca descascar uma laranja ou destripar um ciclista. 

Vamos, por isso, desarmar as famílias de suas facas? Obrigá-las a pedir licença na Polícia Federal sempre que quiserem comprar facas? Manter um registro federal de todas as facas da cozinha? Indenizar quem queira entregar suas facas ao estado? Quando todas as facas das famílias estiverem recolhidas, isso nos dará a certeza de que não haverá facas assaltando vítimas sem direitos humanos? Não. Porque só as pessoas obedientes à lei entregarão as facas, mesmo sem precisar, porque só as usariam como arma em legítima defesa. E quando os bandidos souberem que todos entregaram suas facas, vai ser uma festa, um saque que fará inveja aos bárbaros do passado. Porque certamente não vão prender nem tirar as facas dos adolescentes que estão aterrorizando os sem-direitos-humanos. Criminosos que ainda não completaram 18 anos são protegidos pela lei

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