A Justiça de Sorriso condenou a 72 anos de prisão um homem por estupro de vulnerável. Segundo a denúncia disponibilizada pela Justiça, Cícero Ribeiro dos Santos abusou das duas filhas e do enteado por vários anos. As crianças tinham dois, três e oito anos de idade, quando os crimes foram descobertos.
Os abusos foram revelados a partir da visita que a irmã da mulher do estuprador fez em Sorriso, em 2016. Ela relatou que percebeu um comportamento anormal nas crianças, “bem como no da irmã e do réu”. Segundo seu depoimento, Cícero chegou a “flertar” com ela, durante a visita.
A testemunha disse também que o menino de oito dava sinais de não querer residir com o padrasto. A família do pai biológico, então, iniciou uma investigação sobre o comportamento da criança, que foi encaminhada para um psicólogo. Durante as sessões, foi descoberto que o menino era vítima não só de maus tratos, mas também de abuso sexual.
A criança relatou ao psicólogo que os abusos ocorriam quando a mãe saía para trabalhar, já que o homem ficava o dia todo em casa. Já ciente da denúncia, a Polícia Civil foi até a residência e, segundo consta no processo, “apreendeu vasto material pornográfico” nas redes sociais de Cícero, além de “objetos de cunho sexual e gosto duvidoso espalhados pela casa, como esculturas obscenas e quadros de mulheres nuas”. Durante a busca, os policiais também ouviram de uma das meninas “que o pai ‘mexia’ com ela”.
O relatório psicossocial anexado ao processo ainda traz outros detalhes dos crimes. Segundo o documento, o menino relatou que o padrasto “por vezes lhe negava comida, por vezes, colocava pimenta nela, e o obrigava a comer, não o deixava sair de casa ou se socializar com outras crianças, além de dar castigos severos e desproporcionais, tudo isso, em meio a abusos sexuais diários, sob ameaça de chicote e até um ‘nunchaku’, instrumento usado em artes marciais, para que não contasse nada a ninguém”.
Outro trecho do relatório cita que Cícero dava ao menor “castigos desproporcionais, tratamento digno de caracterização de cárcere privado” e mostrava “profunda falta de afeto e empatia” pela criança. O menino relatou também que o padrasto “trancava por vezes a casa, mandava todos tirarem as roupas, dava ‘pinga’ para todos, incluindo as crianças, e depois que todos ficavam embriagados, forçavam todos a dançarem nus, em meio a material pornográfico espalhado pela casa”. Segundo o depoimento, essa situação “ocorreu por anos, em meio ao silencioso sofrimento das crianças, como em um filme de terror”.
Na sentença, o juiz Anderson Candiotto destacou que “a impressão que se tem, lamentavelmente, é que aquela casa pequenina, o local que deveria ser sagrado para qualquer pai de família, pouco importando as condições econômicas de quem nela vive, o réu Cícero fez dela um “calabouço” para a satisfação de suas perversões sexuais e transformou aquelas pessoas que mais deveria cuidar e amar em ‘escravos de sua lascívia.’”
O magistrado fixou a pena em regime fechado. Cícero, até o momento, não foi preso e é considerado foragido da Justiça.