Finalmente, por toda a parte está se identificando o vício que escraviza pessoas ao celular. Já vem de longe o sentimento de nudez quando se esquece o celular em casa, ou no carro ou no trabalho. A sensação de impotência quando a bateria acaba e não se tem o carregador ou tomada para carregar. Pois hoje tudo isso se agravou com a expansão do WhatsApp. As pessoas cada vez mais participam de grupos ou têm dezenas de interlocutores e ficam presas ao celular, enquanto a vida continua e as horas vão passando. Minhas filhas e minha neta costumam me buscar, no Rio, à saída do Jornal Nacional de sábado. Elas sabem agora que fazem isso para jantar comigo. Mas há algum tempo, cada uma delas jantava com os interlocutores do WhatsApp, mesmo estando à mesa comigo. Até que ameacei deixá-las na companhia da porcaria do celular.
Estar com alguém enquanto se digita no celular é como dizer “você não tem importância e sim as pessoas que estão ligadas a mim por via digital.” É uma epidemia. Vem sendo considerada a droga do século. Restaurantes pelo mundo afora estão pedindo a seus clientes que desliguem os celulares ao entrarem no recinto. Nas salas de aula, o celular é uma praga. O comércio de Brasília já constatou queda de vendas porque os vendedores estão mais dedicados ao celular que aos clientes. E agora ainda é acrescentada a mania da foto. Tiram-se tantas fotos que duvido que haja depois tempo para vê-las. Fotos sem perguntar sequer se podem ser feitas imagens que são de outras pessoas. Já vi até fotos em velórios. E há os que tiram fotos para mostrar aos outros o prato que estão comendo, como se isso interessasse a outra pessoa senão o que degusta a comida.
Agora entrou na moda uma camerazinha grande angular e o respectivo pau-de-câmera, para a pessoa mostrar onde está. Por toda a parte vejo turistas enchendo a tela com suas caras, e escondendo as paisagens maravilhosas que foram visitar. Depois não terão tempo de se ver e não lembrarão dos cenários, porque estavam interessadas mesmo é no espelho. São chatices em que a pessoa esquece de viver, de desfrutar, de aproveitar seus minutos com outras pessoas e outros lugares. E há a vaidade incontrolável do exibicionismo; de só fazer coisas que possam ser mostradas aos outros. Que, cá prá nós, não estão nem um pouco interessados com essas aborrecentes mensagens.Ninguém consegue satisfazer apenas a si; precisa exibir suas conquistas aos outros, ou perderá a graça. É como a piada daquele náufrago que ficou sozinho numa ilha com uma musa do cinema, mas estava frustrado porque não tinha a quem contar.
Há um outro vício epidêmico que machuca a Língua Portuguesa mais que o gerundismo machucou. É o anacoluto do sujeito. Que é a repetição injustificável do sujeito: “O governador ele disse…” “A platéia ela se manifestou”; “O corrupto ele levou propina”. Quem bobagem é essa? Que diabos! O governador disse; a plateia se manifestou; o corrupto levou propina – não é isso? O que deu nessa gente que resolveu inventar essa fala? Não somos franceses para construir assim nossas frases. Parece que fomos inoculados por uma espécie de ebola que nos torna presa fácil dos vícios da moda. Tomara que passem logo.