O secretário-geral da FIFA, Jérôme Valcke, acaba de perceber que para os brasileiros ganhar a Copa é mais importante que a organização do evento. Ele começou a carreira como jornalista de um canal de televisão francês(o mesmo do repórter francês que teve o carro arrombado nesta semana, no primeiro dia de Brasil) e depois foi diretor de marketing da FIFA. Tem uma boa experiência de observação de multidões, portanto. Está no Brasil há algum tempo, acompanhando a preparação do torneio, marcado há sete curtos anos. Acostumado com a organização européia, chegou a dizer, há dois anos, que os organizadores da Copa no Brasil deveriam receber um pontapé no traseiro, para tocar as obras. As autoridades brasileiras manifestaram a indignação de praxe, mas sem o pontapé merecido, as obras foram se arrastando, despeito dos nossos brios. Os estádios talvez fiquem prontos na véspera; as obras nos aeroportos e de mobilidade urbana serão concluídas bem depois de terminada a Copa.
Pois o senhor Valcke já está um conhecedor da alma brasileira, um Gilberto Freyre atualizado. Na sua análise quase sociológica, disse que é preferível que o anfitrião fique o maior tempo possível na competição, porque isso motiva mais o dono da casa em torno do evento. E, principalmente, deseja que a competição seja motivo de “esperança e alegria” para os brasileiros. Deve saber o quanto estão sem esperança os que não estão alienados e o quanto sobrevivem de esperança os que não conseguem perceber o que se passa com este país.
Quanto à alegria, Valcke deve ter percebido o quanto ficamos facilmente alegres com o resultado de um jogo de futebol, ainda que na segunda-feira se reencontre o atraso no transporte público e na escola para os filhos. E com o medo de precisar da saúde pública. Por falar em medo, o estranho é que o sociólogo Valcke desdenhe a média de 154 homicídios por dia, ao dizer que se filho se sente seguro no Brasil.
Mas enfim, atesta que já nos conhece: afirma que para o brasileiro, mais importante que organizar a Copa é vencer a competição. Esse é o espírito da maioria: futebol é mais importante que o tal dístico “ordem e progresso” na bandeira da seleção. Bandeira da seleção? Claro. Não vejo essa bandeira nas lojas, nos carros, nas casas, nos shoppings, durante a Semana da Pátria. Vejo-a apenas para jogos da seleção. Argumentam meus amigos que a seleção dá alegrias e nos ajuda a pensar que somos felizes com tudo que nos desrespeita e oprime.