TAORMINA, Itália – Aqui vizinho ao altaneiro e fumegante Etna, aproveito a tranquilidade das alturas de onde se vê constantemente o mar Jônico sempre azul, para ler sobre o Brasil. D.H.Lawrence morou aqui para se inspirar, quando escreveu o Amante de Lady Chatterley. Quase cem anos depois, Woody Allen usou o teatro grego-romano aqui a meu lado para filmar A Poderosa Afrodite. Quem sabe este lugar tão especial me ajude a compreender meu país, tão grande e com tanto potencial, mas que se comporta como um vulcão adormecido, ao contrário do Etna, o mais alto e mais ativo da Europa. Estou a ler a história da República, 1889, do Laurentino Gomes.
O livro fala de um país em que o governo se metia em tudo e era inibidor da livre-iniciativa. O governo central regulamentava tudo, dava subsídios, juros favorecidos, definia prioridades e assegurava isenções fiscais. Uma das consequências da excessiva presença do Estado erra a proliferação do empreguismo público, aumentando as despesas e desorganizando os serviços. O empreguismo era um viveiro político, abrigando uma rede de clientelismo. A contrapartida era o desestímulo ao conhecimento nacional. Um país fechado em todas as direções – como escreveu Joaquim Nabuco. Artistas e intelectuais viviam pendurados nas tetas do governo.
Essa é uma descrição dos tempos de Pedro II – atualíssima, como pode perceber o leitor. Havia uma Constituição escrita, mas a realidade do país era outra, diferente dos altos princípios registrados na magna carta. A maioria da população era mantida à parte das decisões, sem condições de preencher os requisitos mínimos para exercer o voto. O governo central recebia 77% dos tributos, as províncias 18% e os municípios minguados 5%. Tudo a ver com o Brasil de hoje.
Tobias Barreto identificou, em 1887, o que era organizado no Brasil: “É o governo, é a administração, por seus altos funcionários na corte, por seus sub-rogados nas províncias, por seus ínfimos caudatários nos municípios, não é o povo, o qual permanece amorfo e dissolvido, sem outro liame entre si, a não ser a comunhão da língua, dos maus costumes e do servilismo”. Ao olhar do alto destas montanhas para o país em que tenho vivido há 73 anos, resta-me o consolo de mudar a convicção de que estamos em decadência. Apenas não saímos do lugar.