Circula na internet um calendário de 2014 mostrando que janeiro, fevereiro e março estarão ocupados por férias e carnaval; abril por feriadões, como a Semana Santa e Tiradentes; maio com a preparação para a Copa; junho e julho pelo mundial de futebol. Diz o calendário da internet que agosto e setembro serão meses úteis e que outubro será ocupado pelas eleições; que novembro será mês útil e dezembro mês de festas de fim de ano e férias. Aos meus remetentes tenho respondido que estão muito otimistas, porque os “meses úteis” de agosto e setembro serão ocupados pela campanha eleitoral e o “mês útil” de novembro será ocupado pelo segundo turno e pelas movimentações pós-eleitorais. Quer dizer, o ano já acabou.
Estive em férias nos Estados Unidos durante a copa de 1994 e num dia de jogo do Brasil tentei assistir pela televisão de algum bar, lanchonete ou restaurante. Em todos em que entrava, estavam assistindo ou golfe ou basquete ou bêisebol. Para assistir ao Brasil, tive que alugar um quarto num hotel. A vida continuava e ninguém dava bola ao soccer. Em outra ocasião , passei a semana santa em Nova Iorque. A sexta-feira-santa foi um dia normal de trabalho. Só no domingo de Páscoa houve a tradicional caminhada pela Quinta Avenida. País sério não quer saber de futebol ou feriado. Quer trabalhar para ganhar dinheiro e ter abundância para viver tranquilo.
Aqui, pelo jeito, vamos perder 2014 inteiro. E o pior: saímos mal de 2013, com a maior divida externa, a maior dívida pública, inflação além da expectativa do governo e crescimento pífio – o pior desempenho econômico entre os BRICS e entre os piores da América Latina. Isso sem falar da liderança mundial em homicídios e mortes no trânsito. Nossos hospitais públicos não atendem ao direito constitucional de saúde e a educação vai de mal a pior – o que não significa futuro.
O ano que entra deveria ser o ano das correções de tudo o que está errado, para o que seriam necessárias medidas duras, severas, urgentes, na economia, nas leis penais, na Justiça, na saúde, na educação. Mas boa parte dessas medidas seriam impopulares. E quem vai adotar medida impopular se está em jogo a reeleição? Assim, também para algum tipo de recuperação, 2014 será um ano inútil. Tudo indica que as providências serão empurradas para 2015. Então, um imenso baú de herança maldita vai cair no colo dos eleitos e dos reeleitos. Os eleitos vão reclamar. Os reeleitos vão enrolar. E tudo vai continuar. Não é o sol, o solo e águas abundantes que fazem um país. É seu povo.