No Dia Internacional da Mulher, ouvi no rádio o discurso da Secretária da Mulher da CUT: "Nós não nascemos mulheres; nos tornamos mulheres." Ela usava uma frase da escritora e militante do existencialismo, Simone de Beauvoir, lançando o feminismo no fim da primeira metade do século passado. A frase é bonita, mas sob o ponto de vista biológico nascemos homens e nascemos mulheres e não há quem consiga mudar isso depois do nascimento. O grito de guerra de Beauvoir vinha impregnado de uma ideologia que no século passado prejudicou as vidas de milhões de homens e mulheres. Ela e o marido Sartre foram apaixonados por Fidel Castro e Che Guevara e fico curioso por adivinhar, se ela ainda vivesse, como trataria a luta pela liberdade de uma mulher chamada Yoani Sanchez.
De pés firmes na realidade, a escritora Lya Luft, na Veja desta semana, mostra que a mulher já casa com quem quiser, decide ter filhos ou não, pilota aviões, dirige empresas ou ônibus, mas ainda não é tratada com respeito e dignidade, usada como carne para vender carro ou cerveja; simbolizada pela mulher-melancia ou mulher-melão, com peitos e traseiro deformados pelo silicone; e consumidoras da ilusão de maratonas sexuais numa literatura de gosto duvidoso. Lya sugere que se homenageie a mulher com mais sentimentos e valores e menos exposição de carne, "como em açougue antigo" no dizer de outra escritora, a imortal Lygia Fagundes Telles.
Na suposta tentativa de valorizar a mulher, o modismo do politicamente correto (nada mais preconceituoso que isso) baniu o "sexo feminino" para usar "gênero". Sim, a palavra mulher é do gênero feminino; mas a mulher é do sexo feminino. Outro dia, mediando um debate num auditório de mulheres, com a Secretária Nacional da Mulher, ironizei a mudança: "Uma cadeira é do gênero feminino. Uma mulher não pode ser equiparada a uma cadeira. Ela é do sexo feminino e os homens são do sexo masculino. Et vive la différence!
No mesmo Dia da Mulher saiu uma pesquisa mostrando que enquanto o brasileiro fuma cada vez menos, a brasileira fuma cada vez mais. E que as meninas de 15 anos fumam 22% mais que os meninos da mesma idade. E que 40% da causa da morte das brasileiras já é o cigarro. Será que é por isso que Martha Medeiros escreveu, no domingo, que "hoje, ser mulher, é praticamente ser um homem"? Ela sugere que "ainda podemos ressuscitar a mulher que fomos, sem prejuízo à mulher que somos." E vou terminar endossando uma sugestão da escritora e articulista: Que tal deixarmos a testosterona e o estrogênio interpretarem seus papéis originais?