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Não tem jeito

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A tragédia em Santa Maria poderia equivaler à paixão-e-morte de 239 jovens, que deram a vida no calvário da boate Kiss para absolver os brasileiros do pecado original da imprevidência. Mas nada adiantou. Antes da quaresma, veio o carnaval do esquecimento. Assim foi em 2007 quando bandidos arrastaram até a morte o menino João Hélio pelas ruas do Rio. Logo depois veio o carnaval e o sangue do menino sumiu no asfalto.

Poucos dias depois da tragédia de Santa Maria, o carro alegórico da torcida do Santos encostou em fio de alta tensão. Quatro pessoas morreram eletrocutadas e nove ficaram feridas. Ao mesmo tempo em Salvador, um trio elétrico tocou na alta tensão e um homem foi morto. Pois fazia dois anos que um trio elétrico no carnaval de Bandeira do Sul, Minas, por um contato com fio de alta tensão, matou 15 e deixou 50 feridos. Ninguém aprendeu. Seria simples medir a altura dos fios e o topo dos caminhões de carnaval. A imprevidência resultou em mortes.

Há poucos dias, em Belo Horizonte, caiu uma marquise de 10 toneladas esmagando uma senhora que esperava o ônibus para o trabalho, às seis e meia da manhã. Descobriu-se que a marquise fora adicionada à fachada do prédio depois do habite-se e sem amparo legal. Onde estaria a fiscalização, que não viu a construção de uma marquise de 30 metros de comprimento? No mesmo limbo onde se supõe ter estado a fiscalização das boates sem saída de emergência. Depois de Santa Maria, apareceram milhares de casos assim.

Não vai adiantar nada ter os mortos como salvação dos vivos. O tempo vai passar e tudo voltará ao anormal – que no Brasil é normal. A fiscalização vai continuar a mesma, os políticos vão prometer providências – sempre no futuro. E o velho vai acontecer de novo e de novo. Ainda bem que os brasileiros estão viajando cada vez mais para o exterior – e vão percebendo como país sério protege a vida com prevenção. E como é hábito cumprir a lei. A vida fica mais fácil. E a gente descobre que no alegre país tropical, imprevidente e irresponsável, somos infelizes e não percebemos.

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