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Um Airbus a cada dia

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O governo federal lançou sexta-feira mais uma campanha de trânsito. Elas se sucedem, mas os resultados não aparecem. Agora a campanha se chama "Pela Consciência no Trânsito" e fala em "ações para conscientizar os motoristas". Tenho urticária quando leio e ouço esse verbo "conscientizar", apresentado como solução para tudo e sem nada de resultado. E aprendi nas aulas de Psicologia que o que está no consciente, passa logo. O que fica é o que vai para o inconsciente. E é isso que falta para o motorista e para o pedestre no Brasil: ter hábitos, costumes, que geram ações inconscientemente, como acontece em qualquer país civilizado. Parar no sinal vermelho, respeitar faixa de pedestre, está no inconsciente, na medula dos civilizados.

Infelizmente, nessas campanhas onde se gasta o dinheiro de todos, só quem ganha são as empresas contratadas para fazê-las. As campanhas seguem o mesmo padrão de conscientização e são lançadas no palácio com convidados especiais, geralmente artistas e gente que perdeu parente no asfalto. Na última solenidade, uma artista trocou a submissão à lingua nacional por outra, chamando a presidente de "presidenta", na entrevista que concedeu depois. A meta da atual campanha, em dez anos, é reduzir pela metade o número de mortes, como compromisso do governo com a Década Mundial de Ação pela Segurança de Trânsito, lançada pela ONU. Fica a dúvida sobre a seriedade dessa meta, já que não se conhece quantas são as mortes.

O governo aceita 42.844 mortes por ano, o que já dá a matança de 117 por dia. Mas reconhece que não conta os que morrem depois nos hospitais, nem os que morrem em estradas municipais e vicinais ou nas pequenas cidades. O cálculo do professor Mauri Panitz, da PUC/RS, feito já há alguns anos, chegava a 80 mil mortes por ano, o que dá 219 por dia. E não estamos falando da quantidade de gente que ficou com sequelas por toda a vida, entre o meio milhão de feridos. O custo disso para o Sistema Único de Saúde é de quase 200 milhões por ano, mas o cálculo não inclui a ausência no trabalho, as famílias desamparadas, os inválidos que ficam às custas da Previdência. Muito menos estamos calculando a quantidade de lugares nas emergências, que são tomados pelas vítimas de trânsito.

"Um airbus de mortes no trânsito cai todos os dias no Brasil." – foi uma frase forte que se ouviu na solenidade. Forte e realista, meio descrente nos números do governo. Um airbus pequeno, o 319-100, pode carregar 142 passageiros. O A321-200, leva 234 passageiros. Quantas vidas estará levando o asfalto brasileiro a cada dia? Existe, no planeta, alguma guerra mais sangrenta que essa? E país mais indiferente ao derramamento de seu próprio sangue?

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