terça-feira, 1/outubro/2024
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Escândalos sinceros

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O ex-presidente da República e presidente do Senado José Sarney diz que a crise no Ministério dos Transportes já é caso superado. Deve ser porque temos que dar espaço para os escândalos seguintes, cada vez mais freqüentes. Tenho quase 65 anos de vida política. Aos seis ou sete anos, já brincava com sátira das siglas partidárias daquele tempo – UDN: Unidos Derrubaremos a Nação; PSD: Para Servir o Dornelles(Getúlio Dornelles Vargas) e PTB: Pura Tapeação do Baixinho(Vargas). Criança ainda, discutia sobre o Brigadeiro, Prestes, Dutra, Plínio, Adhemar e Getúlio. Depois, o embate JK e Juarez e, na geração seguinte, já estava, com a vassourinha na lapela, em comícios do Jânio, adversário do Lott. Tempos em que havia corrupção, mas não num tamanho, numa sucessão crescente como hoje.

É preciso esquecer a crise, o escândalo de hoje, porque é necessário abrir lugar para o próximo. Aí, esquece-se o atual e amplia-se a falta de vergonha. Quem lembra, por exemplo, logo ali, do deputado que construiu um castelo em Minas? Pois agora se descobre que a Justiça Federal tenta cobrar dele 53 milhões de reais devidos à Previdência. O deputado não foi reeleito. Estava acusado de usar 230 mil reais do nosso dinheiro para contratar suas próprias empresas de segurança. Será que está encastelado? Atrás de muralhas parecem estar os mensaleiros, que não estão preocupados com os processos que correm no Supremo.

Tempos aparentemente menos inescrupulosos, já eram vergonhosos. Eu era menino e Sérgio Porto(Stanislaw Ponte Preta) já escrevia "Restaure-se a moralidade ou locupletemo-nos todos", mostrando nossa hipocrisia. Os que são atores de escândalos, em geral são nomeados pelo nosso voto. E, pior, eles fazem os males durante o mandato e depois os reelegemos. Ou somos burros, alienados ou cúmplices. Talvez, em tempos de hoje, muitos entre nós tenham decidido lucupletarem-se também.

Afinal, acaba de ser lançado no Brasil o livro de um jornalista alemão, intitulado Sincero. Ele conta o que aconteceu quando passou 40 dias sem mentir. Por exemplo, a um cumprimento Tudo bem?, ele respondia: Não, estou com dor-de-cabeça ou Hoje estou com dificuldade de pagar uma conta. Era sincero sempre, deixando de lado a hipocrisia. Em resposta, foi insultado, agredido, quase perdeu a mulher. O livro mostra como nossas relações se baseiam na falsidade, na enganação. Imaginem boa parte dos políticos impedidos, por alguma bendita maldição, de mentir.

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