Quando estourou a bolha de crédito nos Estados Unidos e havia a ameaça de um tsunâmi na nossa economia, o presidente Lula, com ousada sabedoria, proclamou que se tratava de uma marolinha e pediu que continuássemos comprando, reformando a casa, produzindo, recebendo crédito. Funcionou. A crise não nos atingiu, como pegou espanhóis, irlandeses, gregos e troianos… Agora aparece a conta. Quase 60% dos assalariados vão usar o 13º para pagar contas atrasadas e, o que é pior, contas caras. Em primeiro lugar vem o cartão de crédito, com juros de 240% ao ano! Em segundo lugar, o cheque especial, com juros de 140% ao ano. Imagine uma compra descontrolada no cartão, que faz a pessoa pagar em juros quase três vezes o valor da mercadoria! Doze em cada 100 assalariados vão guardar para os impostos de início de ano e despesas escolares dos filhos – ou seja, já têm o 13º comprometido. E só 3% vão usar para reforma da casa ou guardar para comprar residência.
Como sabemos, dar o passo maior que as pernas faz a gente rasgar as calças. Só a poupança dá futuro – o resto é o futuro insuficiente para pagar o passado. Dizem os economistas – e Lula – que comprar, consumir, é bom porque movimenta a agropecuária, a indústria, o comércio, os serviços, e gera emprego. Quer dizer, a poupança é prejudicial, porque é o oposto do consumismo. Será verdade? E se o consumismo criar endividamento impagável? E se o estímulo à venda de veículos, por exemplo, aumenta o número de mortes no asfalto, emperra o trânsito, esgota as vagas de estacionamento, aumenta a impaciência ao volante, provoca perda de tempo e endividamento?
Há dias um empresário do turismo me disse que seus negócios dispararam quando a Constituição estabeleceu que, além de férias, os assalariados deveriam receber mais ⅓ da remuneração. “Aquele terço é nosso – pensei˜. – contou-me ele. E passou a vender mais pacotes de férias. O salário não é mais dos trabalhadores. É dos pagamentos de tudo aquilo que os trabalhadores são convencidos a consumir. TV analógica? Que coisa antiga, compre uma HD. O vizinho comprou carro novo? Que vergonha, você com um carro velho! Este celular já está ultrapassado! O comércio lucra, a indústria automobilística cresce, o povo se endivida e os banqueiros ganham como nunca.
O pior é que os governos também estão endividados. Parece que a Lei de Responsabilidade Fiscal não segurou a fácil administração pública do gasto. Os estados estão pendurados. O governo federal pagou, de juros de sua dívida, 1 trilhão 620 bilhões de reais, de 2003 até hoje. O pior é que não se vê nesse endividamento, consequências em bons serviços públicos de Justiça, Educação, Segurança, Saúde, Transportes. Pelo menos o trabalhador endividado está falando ao celular, andando no seu carrinho e vendo tv com boa imagem. Só não se sabe se o programa terá um final feliz.