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Rir e chorar

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Nosso subcontinente tem coisas que são de rir e de chorar ao mesmo tempo. Quando Silvester Stallone, o Rambo, faz riso com a ilegalidade do Rio de Janeiro, é para chorarmos; quando o tenente-coronel paraquedista Hugo Chávez – acolitado por Maradona – faz ameaça de cortar o fornecimento de petróleo aos Estados Unidos se a Colômbia invadir a Venezuela, é de chorar de rir. Primeiro, que ele é que ameaça a Colômbia com guerra; segundo, porque os Estados Unidos é que poderiam ameaçar Chávez de não comprar mais petróleo da Venezuela. Os americanos têm petróleo próprio e mantêm reservas; por isso é que importam, para não tocar na reserva estratégica. E compram 65% do petróleo da Venezuela, que se sustenta com os dólares dos Estados Unidos. Se não vender para os americanos, a Venezuela não teria mercado: seus aliados, Irã, Equador e Bolívia, têm petróleo; o outro aliado, Cuba, não precisa de mais petróleo e nem teria como pagar. A Venezuela não tem indústria de importância e se afunda em recessão com inflação.

A piada não termina aqui. O chanceler venezuelano desembarcou esta semana em Brasília, apresentando a Lula um "plano de paz". Imagine que Chávez toma a iniciativa de romper relações, fala em guerra, e manda um ministro mostrar para o presidente do Brasil um plano de paz. Sugiro que o plano tenha o nome de "tirar o bode da sala". Como se sabe, quem botou o bode fedorento foi o tenente-coronel. É de chorar, a presunção de que somos idiotas.

Em crise interna, todo tiranete tem a mesma fórmula para desviar as atenção e tentar unir o país: declarar guerra a um inimigo externo. O ditador Galtieri fez assim, invadindo as Malvinas e se deu muito mal. Perdeu a guerra e o poder. E foi para a merecida cadeia. A Colômbia denunciou no foro próprio, a OEA, que a Venezuela abriga campos de treinamento das FARC e a resposta de Chávez foi romper relações e falar de novo em guerra. Como a acusação está comprovada, ele diz que não permitirá a entrada de estrangeiros para constatar o óbvio. Até o Paraguai já se queixa de que Chávez exporta guerrilha, tal como fazia Fidel Castro nos anos 60.

O Presidente Lula e o ex-presidente argentino Nestor Kirchner, secretário-geral de uma tal de UNASUL, pretendem mediar o conflito nos próximos dias. Nenhum tem isenção para isso. Os jornais argentinos mostraram que a senhora Kirchner iria receber uma mala com 800 mil dólares de funcionário venezuelano para a campanha presidencial; e o senhor Lula é companheiro de Chávez e seu partido, o PT, tem notórias ligações com as FARC, há 20 anos, desde o Foro de São Paulo, evento que buscava novos caminhos para a esquerda, depois da queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética. No Foro de Porto Alegre, o representante das FARC foi recebido pelo governador Olívio Dutra, do PT. Um ex-padre integrante das FARC, preso no Brasil, teve abaixo-assinado de petistas para impedir a extradição dele e a mulher dele conseguiu cargo de confiança no Ministério da Pesca. Neste ano, foi descoberto um entreposto das FARC em Manaus, com sistema de rádio, para a distribuição de drogas. O traficante Fernandinho Beira-Mar foi preso quando estava com as FARC, negociando. Por isso, a mediação ficaria mais isenta com os presidentes do Chile e do Peru, por exemplo. O paraguaio Lugo nem poderia, porque se sente vítima dos guerrilheiros do Ejército del Pueblo Paraguayo apoiados por Chávez.

A última do Chávez é retirar da tumba os restos mortais de Simon Bolívar, o modelo de seu "socialismo bolivariano", uma versão improvisada de marxismo. Ele não conhece o que o próprio Marx escreveu sobre Bolívar, chamando-o de "mentiroso, falsário, covarde, tirano e desertor". Para Marx, Bolívar representava a burguesia, tentou eliminar os negros, e tirava a Espanha das colônias para que pudesse vir o domínio inglês. Chávez é um comediante que depois, escondido, deve chorar das próprias piadas.

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