A capital do Brasil se apresenta ao país, às vésperas de completar meio-século de inaugurada, como um antro de corruptos. Moro em Brasília há 34 anos e nunca vi nada igual. Mas, por outro lado pode-se considerar que o Distrito Federal é a única unidade da federação que botou na cadeia um governador. Fico a me perguntar quem são os responsáveis por cerca de 250 mortes nas cercanias da baía da Guanabara. Quem deixou construir sobre um lixão pronto a deslizar pela encosta? Roberto Silveira está no terceiro mandato de prefeito de Niterói e disse que não sabia de nada… No Rio, faz 44 anos que tragédia semelhante se abateu sobre a cidade, e a catástrofe se repete em maior ou menor dose todos os anos, e ninguém fez o que precisava ser feito: preservar o cenário verde das montanhas que deram ao Rio o título de Cidade Maravilhosa.
No governo de Leonel Brizola, o vice Darcy Ribeiro chegou a afirmar que "favela não é problema; é solução". Solução para quem? Para os populistas e demagogos? Em Brasília Roriz foi governador quatro vezes, sempre dando lotes assim como os políticos do Rio prestam favores através de dezenas de comitês, chamados Centros Sociais que vereadores e deputados mantêm nas favelas – perdão, comunidades. (A hipocrisia do politicamente correto muda nomes para não mudar os problemas. No governo militar, acabaram-se os pobres, porque passaram a ser chamados de carentes. E a gente sabe que, em geral, carente é filho de rico.)
Agora em Luziânia, aqui pertinho de Brasília, descobre-se que os seis jovens desaparecidos, na realidade foram mortos após assédio sexual, por um condenado a catorze anos por pedofilia – crime hediondo. Havia molestado duas crianças e tinha um laudo psiquiátrico de psicopatia e periculosidade. No entanto, quatro anos depois da condenação, foi solto e sequer foi vigiado. Foi morar em Luziânia e a polícia local nem havia sido informada disso. Ocupada com o crime no município – mais de um homicídio por dia, 380 no ano passado -, e com registro anual de desaparecimentos de 110 pessoas, a polícia goiana não deu importância à gritaria das mães, imaginando que eram apenas jovens a fugir de casa em busca de vida melhor. Não fossem os protestos saindo na TV, inclusive no Jornal Nacional, a polícia não teria dado importância ao caso.
De quem é a responsabilidade pelas seis mortes? Da lei, do conselho penitenciário, da polícia? Tudo é parte do estado. Um estado incompetente, que não toma conhecimento da favelização de um lixão numa encosta; que liberta um pedófilo psicopata e matador potencial; que usa a gigantesca carga tributária que oprime a pessoas e empresas, para fazer demagogia, populismo, propaganda para si. O presidente do Chile esteve em Brasília semana passada e, perguntado pelo Correio Braziliense se não temia ser impopular ao adotar medidas duras para compensar os estragos do terremoto, respondeu: "Os políticos pensam nas pesquisas e nas eleições; mas os presidentes têm que pensar no bem-estar de seus países e seus povos, no que têm que fazer e não no que necessariamente seja mais popular." Uma lição que para ser assimilada por políticos brasileiros, tem que mudar a cultura nacional.