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A menina e o leite

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Uma fábula de Esopo conta que uma menina ia para a feira levando um jarro de leite para vender. E ia sonhando com o que faria com o produto da venda. Compraria ovos e os poria para chocar. Depois, criaria galinhas e com a renda, compraria vacas para vender mais leite. E iria multiplicar sua renda e patrimônio e ficaria rica. Tão distraída estava com o sonho que não viu uma pedra no caminho, tropeçou e derramou o leite. E o sonho. Já estamos erradicando a pobreza no Brasil, sem antes termos começado a vender a primeira gota de petróleo do pré-sal.

O então prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, popularizou o termo “factóide”. É um meio-fato, para criar a sensação de que o fato já existe, e provocar reações que tragam vantagem para quem criou o factóide. O pré-sal é um factóide.
Nada contra o planejamento. Nada contra a política estratégica, que prevê décadas à frente. Essa é a função do estadista. Se há indícios fortes de que temos uma imensa reserva de petróleo leve no fundo do oceano, nada mais sensato que planejar o aproveitamento dessa riqueza, antes que o petróleo se desvalorize e seja substituído por outras fontes de energia. Mas tratar a descoberta, a riqueza potencial, como algo que já esteja dando lucro e riqueza, é factóide; é leite ainda sem chegar à feira.

Existem barreiras imensas a serem vencidas. O petróleo, se lá estiver, jaz a 7 mil metros de profundidade. São 2500 metros de água e uns 5000 metros de sal e rocha. Os cabos de ancoragem da plataforma não podem ser de aço, ou seu peso afundaria as instalações flutuantes. A broca precisa ser mais resistente que a rocha duríssima que abriga a reserva. E terá que chegar lá. No meio do caminho, há uma camada quilométrica de sal, que é instável e solúvel n`água – ninguém sabe como manter o furo. O petróleo estaria a cem graus de calor e poderia perder a fluidez quando em contato com o frio do fundo do mar, ou liberar parafina que esclerosaria os dutos. As plataformas ficariam a 300 quilômetros da costa – uma grande distância até para helicóptero. 

Além da tecnologia, vai ser preciso muito capital para financiar tudo isso antes que se extraia e venda a primeira gota de petróleo. Será rentável se o preço do petróleo estiver alto. Se o óleo já estiver sendo substituído por outras fontes de energia, o preço entrará em queda. Mas é provável que nos primeiros anos de produção, o preço ainda será compensador. Depois, lá pelo ano 2025, ninguém sabe. O presidente Lula já faz discurso dando destino às rendas do pré-sal; os governadores já brigam por royalties. Fala-se como se fosse algo para o eleitoral ano que vem. Pois se tudo der certo, a primeira gota de petróleo, com muita sorte, poderá aparecer para a venda lá pelo ultimo ano do governo que suceder ao governo que suceder ao atual governo. Por enquanto, ainda é leite carregado pela menina sonhadora.

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