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Ocaso Sarney

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Começo alertando o editor deste jornal: o título é assim mesmo, um trocadilho: não é O Caso de Sarney”. É o ocaso mesmo. Chega aos 80 anos sem as glórias com que sonhou ao tomar do Patrimônio Histórico o Convento das Mercês para transformá-lo num museu de sua vida. A História é uma juíza implacável. Sarney não entende bem o que se passa, porque sua cultura admite tudo o que fez como normal, natural. Renan Calheiros, seu principal defensor, tampouco. Investiga a vida dos senadores que denunciam Sarney, como se isso fosse calar os fatos. Mas os fatos são fortes demais, eloqüentes demais. E José Sarney vai esmorecendo, desistindo, perdendo as forças. Ao participar suas desilusões a Lula, fez com que o Presidente da República recuasse na defesa, ante o desgaste que ele próprio, Lula, está sofrendo, e o pedágio que o governo paga são rachas no PT, no PMDB, paralisação do Senado e confusões no próprio Governo. Constrangimento geral.

            Sarney e sua família perceberam que quanto mais tempo ele ficar na cadeira de presidente do Senado, mais se revelam malfeitorias. Renan Calheiros faz tudo para que Sarney fique e sobreviva às denúncias, porque a cultura de perdoar os transgressores mantém as práticas com que transgressores semelhantes se locupletam. É uma grande famiglia, em que todos se protegem para continuar aplicando a regra de que o patrimônio público é deles e não do público, assim como o dinheiro do contribuinte pode ser usado para vantagens pessoais – direito concedido pelo voto popular.

            Incrível que se Sarney renunciar à Presidência, o PMDB não tenha alguém para se expor e ocupar a cadeira. Os que nada teriam a temer, os senadores Pedro Simon e Jarbas Vasconcellos, o PMDB não quer – até sugeriu que deixem o partido, para que a agremiação fique mais homogênea… Para ficar com um governista na presidência, talvez tenham que buscar o senador Francisco Dornelles, do PP do Rio. Dornelles tem trânsito em todas as correntes. Já foi Secretário da Receita de Figueiredo e Ministro da Fazenda de Sarney, nomeado por Tancredo, seu tio. E não precisa ter medo de denúncias.

            Quando acabar a novela Sarney, será que vamos parar por lá? Espero que não; porque há, ainda, dezenas de políticos com currículo semelhante, que precisam ser banidos da vida pública, se quisermos ter um país decente, sério, com vergonha na cara, em que as instituições não funcionem como valhacoutos. O voto tem essa força, assim como teve para eleger Sarney, Renan, Jader e tantos outros. Quando se denunciou a camarilha dos Anões do Orçamento, na Câmara, pensava-se estar erradicando uma espécie nociva de políticos. Mas depois apareceram os mensaleiros a demonstrar que o eleitor ainda é enganado. Agora ainda tem gente com esperança nesse Conselho de Ética. Dali, nada sai. Sarney só sai pressionado pelos fatos. Como Calheiros, ACM e Jader Barbalho.

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