O estudo desenvolvido pelo Observatório Social de Mato Grosso apontou que, de outubro até agora, 100% dos pacientes com Coronavírus internados em Unidades de Terapia Intensiva do Hospital Regional de Sinop não resistiram e morreram. A taxa é a maior considerando todos os hospitais com leitos para tratamento da doença em Mato Grosso.
O relatório aponta que em outubro foram 22 internações/mortes, em novembro oito, dezembro 18 e em janeiro (até o dia 13, quando o estudo foi concluído) foram mais 12. Nenhum paciente internado em unidade intensiva foi curado da doença durante este período.
O levantamento também detalha que, considerando o mesmo período, a taxa de mortalidade em outros hospitais de Mato Grosso variou entre 70 e 80%, enquanto o índice de recuperados ficou em média variante de 20 a 30%.
De acordo com o observatório, desde o início da pandemia a mortalidade no Regional de Sinop é “excessivamente alta comparando com os números do Estado”. Os dados, segundo o estudo, foram obtidos através de análise no painel Covid do governo e comparados com os números disponibilizados pelo ministério da Saúde.
Em abril, por exemplo, o percentual de mortes foi 62,5%, curados 25%, e os demais transferidos (confira os números na tabela abaixo). Em maio 42,86% se recuperaram e 42,86% faleceram. A partir de junho, o índice de mortos começou a crescer de maneira exponencial e chegou a 93,48%, enquanto apenas 4,35% foram curados.
Já em Julho o índice de curados foi de apenas 1,64% e de mortos de 98,36%. Em agosto 96,55% faleceram e 1,72% venceram a doença, e em setembro 4,08% dos pacientes internados em UTIs foram curados e 93,88% não resistiram às complicações.
Consta no estudo que desde o início da pandemia, a média de pacientes que morreram no Regional de Sinop é de 94,14%, enquanto a de curados é de 3,79%. Em números reais, segundo o observatório, são 273 vítimas fatais e apenas 11 recuperados, desde março.
Também segundo o relatório, em análise desenvolvida anteriormente constatou-se outros pontos falhos nas UTIs do Regional, como leitos em funcionamento sem registro de responsabilidade técnica no CRM, médicos sem qualificação técnica adequando atuando, realização de plantões seguidos (de 60 ou até 120 horas), falta de insumos mínimos, não aplicação de glosas contratuais, e vacância nos leitos. As falhas no gerenciamento das UTIs ocorrem desde 2019, de acordo com o observatório.
É pontuado ainda que a secretaria estadual de Saúde chegou a criar uma comissão com objetivo de investigar as causas da alta mortalidade. A organização constatou, no entanto, que dos três médicos que compõe a comissão, nenhum era especialista em medicina intensiva.
Diante disso, o observatório notificou o governo para que incluísse um especialista, que seria voluntário. No último dia 13, porém, o Estado recusou a ajuda, tendo em vista que “a comissão já está em andamento”. Até o momento, a comissão ainda não apontou o motivo da alta taxa de mortes.
Por fim, a organização destacou que recomendou ao governo que abstenha-se de abrir novos leitos em Sinop enquanto não terminar a análise das causas da taxa de mortalidade, e deu ciência sobre o estudo ao CRM, ministério da Saúde, Conselho Nacional de Saúde, superintende da Polícia Federal, Ministério Público, dentre outros, solicitando ainda que uma auditoria seja realizada no Regional.
Outro lado
Em nota, a secretaria estadual de Saúde afirmou que não procede a informação que todos “os pacientes hospitalizados na UTI Covid do Hospital Regional de Sinop vieram a óbito nos últimos três meses”.
Em outro trecho, a pasta pontuou que “criou uma comissão composta por profissionais habilitados na área, como médicos e técnicos em saúde, para apurar detalhadamente cada prontuário dos pacientes que foram hospitalizados na UTI Covid-19 do Hospital Regional de Sinop”.