A secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado planeja investir R$ 439,3 milhões até 31 de dezembro do próximo ano, em um plano emergencial para recuperação da pecuária após o fogo consumir mais de 20% do pantanal. Do total, R$ 170,4 milhões serão liberados ainda este ano, por meio de remanejamento dos recursos do fundo de desenvolvimento do Centro-Oeste (FCO) não utilizados pelo setor empresarial. Os valores serão destinados prioritariamente ao financiamento de projetos que visem a recuperação da capacidade produtiva no bioma.
“Não é muito, mas através do Codem (Conselho Estadual de Desenvolvimento Econômico do Mato Grosso) vamos aprovar uma resolução que dá direito ao Banco do Brasil, que é o maior operador, a fazer um remanejamento ao FCO Rural”, explica o secretário de desenvolvimento econômico do Estado, César Miranda.
Em reunião com os sindicatos rurais de Cáceres e Poconé na última quinta-feira, o secretário pediu aos pecuaristas que adiantem a elaboração de seus pedidos de financiamento, dado o prazo apertado para a liberação dos recursos. “Temos um prazo curto, de 35 a 45 dias úteis, para fazer essa aprovação, e pedimos aos pecuaristas que preparem o mais rápido possível a sua carta consulta para que entrem no trâmite de análise e liberação do recurso, cientes de que a partir de janeiro temos um novo orçamento e a coisa muda totalmente de cenário”, afirma César Miranda.
Para 2021, a Sedec pleiteia junto ao conselho deliberativo da Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco), formado por representantes dos três Estados do Centro-Oeste mais o Distrito Federal, a criação de linhas de crédito específicas para o Pantanal.
“É uma conjuntura de ações e trabalhos de Estado para melhorar a efetividade da pecuária pantaneira”, destaca o secretário de desenvolvimento econômico do Mato Grosso. Além da Sedec e da Conden, o plano é assinado por outras sete instituições, entre elas a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Famato) e a Associação de Criadores de Mato Grosso (Acrimat).
O documento traça um panorama do setor no pantanal mato-grossense e aponta um elevado índice de abandono da atividade, com uma redução de 72,5% no rebanho dos municípios de Barão de Melgaço, Cárceres e Poconé desde 1973. Juntas, as três cidades reúnem 76,5% do pantanal mato-grossense. “A partir daí, começamos a entender o porquê de o Pantanal começar a ser esse problema. Não que o boi sozinho vá ser bombeiro e resolver o problema. Mas ele é um dos agentes que contribui para reduzir o material que vai ser combustível para incêndios”, destaca o consultor técnico da Acrimat, Amado de Oliveira Filho.
Segundo o economista, a atividade do setor tem “descido ladeira abaixo” nas últimas décadas. “Diga-se de passagem, não é a primeira vez que isso acontece. Já foram feitas ações para repor o rebanho de matrizes como nós vamos fazer agora de novo”, pontua Oliveira Filho.
Dos R$ 439,5 milhões previstos pelo plano de recuperação elaborado pela Sedec junto a entidades representativas do setor, R$ 300 milhões (68,3%) deverão ser destinados para a reposição de matrizes.
Além dos recursos financeiros, o plano prevê alterações na legislação ambiental para permitir a limpeza de pastagens e substituição das variedades nativas por brachiaria humídicola, aos moldes do que já ocorre no Mato Grosso do Sul. “O governo do Estado está vendo com bons olhos isso, o secretário César Miranda defende isso, pode acontecer e é muito positivo, porque vai aumentar a produtividade”, afirma o consultor técnico da Acrimat, que coordenou o grupo de trabalho responsável por elaborar o plano, ao alertar para o abandono da atividade na região.
“Daqui a pouco a economia pantaneira como um todo vai estar comprometida, porque, se continuarem a abandonar fazendas, o turismo também acaba em algumas regiões”, avalia o economista. Segundo dados do Imea, a pecuária responde por 81,7% do Valor Bruto da Produção no bioma.
Diante das dificuldades intrínsecas à criação de gado no Pantanal, com despesas financeiras quase três vezes superiores ao observado para os demais pecuaristas Estado, o plano de recuperação da atividade também prevê uma parceria com o Instituto Mato-grossense da Carne (IMAC) para a criação de uma denominação de origem da carne pantaneira, considerando que ela possui um “valor agregado que precisa ser remunerado pelos mercados”.