PUBLICIDADE

Injustiça na justiça

PUBLICIDADE
Alexandre Garcia

O ministro do Supremo Luiz Edson Fachin, em relatório sobre a lava-jato enviado ao novo presidente da Corte, Ministro Luiz Fux, afirma que “o sistema criminal brasileiro é injusto e desigual para a população menos abastada e leniente com os poderosos.” Nada de novo. O advogado e professor Fachin fez força para chegar ao Supremo. Entrou na campanha de Dilma e, indicado pela presidente, percorreu os gabinetes dos senadores para garantir aprovação no Senado. Provavelmente sabia o que iria encontrar inclusive porque sua mulher é desembargadora no Paraná e deve ter-lhe contado muita coisa. A frase posta no relatório a Fux, além de obviedade acaciana, pode ter sido um alerta e um desabafo.

Como relator da lava-jato, ele deve ter visto muito mais do que já sabia. O desabafo deve ser resultado de já participar do sistema injusto há mais de cinco anos – e dividiu isso com o Presidente do Supremo. Como se sabe, poderosos foram pegos pela lava-jato – da Polícia Federal, do Ministério Público, dos juízes federais de primeira instância, dos tribunais regionais -, mas contaram com a leniência do Supremo, tirados da cadeia e postos em prisão domiciliar – alguns nem isso. O Supremo muito tem contribuído para manter a pecha de país da impunidade, leniente com os poderosos.

O Supremo não está nisso sozinho. A maioria do Congresso aprovou a Lei de Abuso da Autoridade, que inibe a polícia, o Ministério Público e juízes. E esqueceu de aprovar a prisão em segunda instância. A audiência de custódia, que tem servido para jogar no lixo o trabalho da polícia e manter nas ruas assaltantes e traficantes. Agora mesmo o Superior Tribunal de Justiça mandou tirar da cadeia em São Paulo 1.100 traficantes, porque haviam sido condenados a menos de quatro anos. E vem aí o juiz de garantias. Além disso, para os de menor idade, há o ECA. Assim, o sistema criminal não está sendo tão injusto com os menos abastados.

Os poderosos promovem a desigualdade da Justiça pelo dinheiro – geralmente vindo da população menos abastada pagadora de impostos embutidos no que compram. Com o dinheiro, advogados repetem recursos que levam processos à prescrição. Mas também há dinheiro para comprar sentenças, como constatam as corregedorias e o Conselho Nacional de Justiça – e poderosos são apenas aposentados -, e para remunerar com milhões filhos de magistrados, como acaba de revelar o E$quema S, da Polícia Federal. A frase de Fachin nos faz desejar que o ativismo no Supremo saia da política e entre no combate a essas injustiças.

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE
PUBLICIDADE
PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

Mais notícias
Relacionadas

História e farsa

A História do Brasil se encaixa bem no pensamento...

País de surpresas

No Brasil os acontecimentos conseguem andar mais rápido que...

Na nossa cara

Quem chegou ao Brasil pelo aeroporto de Guarulhos na...

Segurança federal ?

O Presidente Lula talvez tenha querido desviar as atenções...
PUBLICIDADE