Nosso centro, apesar das precárias condições de muitos dos imóveis, ainda pulsa. Problemas diversos barram o seu desenvolvimento, entre eles a falta de conhecimento da sua importância, tanto pela população como pelos gestores.
A Academia de Arquitetura e Urbanismo de Mato Grosso, com a UFMT/Uniselva, está elaborando o Plano de Gestão para o Centro Histórico, pela parceria do governo estadual com a ONU/Unido, no âmbito da Parceria para Ação pela Economia Verde (PAGE). Porém, o sucesso da iniciativa depende da crença e da vontade de todos os envolvidos.
O grande desafio é (re)tornar o Centro Histórico bom para seus cidadãos: bom para morar, comprar, trabalhar, divertir, aprender, ter lucratividade e oferecer condições aos proprietários dos imóveis se beneficiarem das potencialidades do tão precioso bem que têm em mãos, a história de Cuiabá, de Mato Grosso e do Brasil. Cuiabá foi determinante na consolidação da fronteira oeste do país.
Quando digo (re)tornar, refiro-me à época em que o centro histórico era o centro político-administrativo, econômico, social e cultural do estado. As migrações dos anos 1960/70 resultaram em pressão imobiliária na área central, havia a necessidade de acomodar toda aquela gente e a cidade ficou pequena para tanto. Nesse período, teve início o processo da descaracterização e demolição de imóveis, em busca da modernização, a exemplo, a demolição da Igreja Matriz, em 1968.
O Palácio Alencastro, sede da administração estadual, não comportava mais a estrutura governamental, havia a necessidade de novas instalações. Como solução, foram planejados o Centro Político Administrativo, os residenciais CPAs e Tijucal, direcionando o crescimento da cidade ao Norte e a Sudeste. A localização dos residenciais distantes da área central proporcionou o surgimento de comércios locais nos bairros.
O desenvolvimento dessas regiões tornou desnecessário ir ao Centro, a não ser para questões específicas, como cartórios, bancos, e assim, foi perdendo os atrativos econômicos e comerciais. Em 1989, é inaugurado o primeiro shopping center de Cuiabá, oferecendo, em apenas um local, variedade de produtos e serviços com conforto. Posteriormente, outros vieram, outras centralidades surgiram, o que afastou ainda mais a população da área.
Novas tecnologias contribuíram para a questão, assuntos que se resolviam pessoalmente passaram a ser realizados pela internet. A maior mobilidade da população, proporcionada pela aquisição de veículos particulares, também contribuiu para o afastamento. E a redução de frequentadores levou ao aumento de imóveis vagos, esses, a problemas de segurança pública incidindo sobre a locação ou venda dos imóveis.
Apesar da importância do conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico do espaço tombado pelo IPHAN, em 1992, grande parte da população desconhece esse bem precioso, que é contemporâneo a Ouro Preto. Por que nosso patrimônio não é cultuado como aquele?
Talvez pelo desconhecimento de nossa rica história pela população. A maioria dos moradores de Cuiabá e de Mato Grosso descende de imigrantes radicados no Estado no auge do desenvolvimento econômico e expansão territorial. Mas não houve a preocupação em repassar esses valores aos “de fora”. Como amar e cuidar daquilo que não se conhece?
Para que o nosso Centro Histórico deixe de ser visto como ônus e passe a ser bônus, é necessário investimento em educação patrimonial. A partir de um novo olhar, precisam ser realizadas intervenções que propiciem o desenvolvimento econômico e social sustentável, quebrando o ciclo anterior de esvaziamento e transformando a região plena de história e cultura em local agradável e seguro para os seus cidadãos. Como consequência, atrair investimentos e desenvolvimento, dando início a um novo ciclo de prosperidade !