Mato Grosso fechou o primeiro semestre com 58% das exportações do Centro Oeste e em quarto lugar no ranking nacional. É motivo de orgulho, mas não é uma vitória consolidada. Primeiro porque, apesar de termos exportado quase US$ 10 bilhões no primeiro semestre, também deixamos de exportar muito, porque muitos dos nossos produtos têm como destino mercados com menor exigência de qualidade e certificações e, portanto, alcançam preços menores.
Cito como exemplo a carne, que registrou aumento de 40% nas exportações em relação ao ano passado – porém o principal destino foi a China, que compra carne como commodity, a preços muito menores dos praticados por mercados como Estados Unidos e Europa, que pagam mais por carne certificada e produzida de acordo com critérios de sustentabilidade. Esses dados fazem parte da primeira edição do Boletim Comex, produzido pelo Centro Internacional de Negócios (CIN) da Fiemt, contendo dados e análises sobre as relações comerciais de Mato Grosso e do Brasil com outros países de janeiro a junho de 2020.
A análise dos dados deixa claro que, se o estado deseja ter mais sucesso na agenda de comércio exterior, é preciso primeiro entender onde estão os mercados que pagam mais pelos produtos que temos vocação para produzir. Mais que isso, é preciso conhecer profundamente as especificações de qualidade e certificações que são necessárias para franquear o acesso aos melhores mercados.
É fundamental também entender que, embora o Brasil tenha apresentado crescimento no volume de trocas no mercado internacional, Mato Grosso ainda participa pouco, principalmente das importações. São muitos os produtos e equipamentos adquiridos aqui que são importados e nacionalizados por outros estados. Mato Grosso precisa ser mais agressivo na estratégia de internacionalização também para importações, criando logística e condições aduaneiras adequadas para ser um grande hub importador. Afinal, se temos que gerar saldo para a balança comercial brasileira, quanto maior volume de trocas Mato Grosso tiver dentro do mesmo saldo, melhor para o estado.
O governo federal também precisa fazer a parte dele, firmando tratados bilaterais ou via blocos econômicos com países cujas regras sejam claras e estáveis. Um exemplo de oportunidade nesse sentido é a atual disputa sobre a importação de etanol para o Brasil. A cota que o Brasil oferece aos EUA está vencendo e precisa ser renovada. Em troca de mais abertura do mercado de etanol aos americanos, é necessário oferecer aos produtores brasileiros a possibilidade de exportar açúcar para EUA, especialmente considerando que lá o etanol é produzido a partir do milho, e há uma demanda por importação de açúcar. É assim que o comércio exterior é feito, com parcerias complementares.
Some-se a tudo isso a reforma tributária em discussão no Congresso, na qual temos grande espaço para debate sobre gargalos exportadores na área tributária. Hoje, quanto mais a empresa agrega valor em território brasileiro, mais acúmulo de créditos de impostos de exportação ela tem. Esses créditos deveriam ser compensados de imediato, porém a acesso a eles é muito difícil. Muitas empresas exportadoras têm milhões em créditos de tributos que simplesmente não conseguem recuperar.
No âmbito da reforma tributária, portanto, é fundamental contemplar a questão da facilidade para as exportações brasileiras. Com isso, ficará mais fácil atrair empresas para beneficiar a nossa produção, pois o acesso ágil aos créditos tributários trará mais competitividade às empresas no mercado mundial. Isso é importante porque a nossa pauta de exportações ainda é muito calcada em bens primários, que se tornarão insumos para a indústria de outros países – e esses países é que captarão maior valor agregado. Mais competitividade e mais industrialização significam mais acesso direto a mercados de maior valor agregado.
Outro grande entrave à competitividade industrial brasileira no mercado internacional é o Custo Brasil – que inclui desde questões de logística, tarifas de energia, dificuldade em fazer negócios devido à burocracia e insegurança jurídica até aspectos como o alto custo da mão de obra. O país precisa de reformas nos próximos anos que levem nossa carga tributária e custo país a um nível comparável à média dos países integrantes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Se queremos ser grandes, precisamos pensar como os grandes.
Isso vai facilitar o processo de abertura comercial do país. A partir do momento em que tivermos indústrias mais competitivas, poderemos abrir mais nosso mercado para importações, já que as empresas nacionais terão condições de competir pelo mercado interno com os produtos importados. Ao mesmo tempo, sendo o Brasil uma plataforma produtora competitiva mundialmente, poderemos atrair investimentos estrangeiros em grande volume para produzir artigos industriais aproveitando nosso milho, nosso algodão, nossa soja, carne e tantos outros bens que hoje são exportados praticamente in natura. O caminho é longo, mas é viável. Basta vontade política e visão de futuro.