Pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso identificaram a presença de hantavírus em duas espécies de morcego presentes na região Norte, os Phyllostomus hastatus e Dermanura gnoma e “aumenta a preocupação com a possibilidade de surtos de Hantavirose, principalmente em regiões de desmatamento e produção de grãos”. A pesquisa foi conduzida a partir da análise sorológica e molecular de amostras biológicas de 47 exemplares, colhidos na região de Sinop.
A presença de hantavírus em espécies morcegos é recente para a Ciência. De acordo com o professor Gustavo Canale, do câmpus de Sinop, esses vírus estão mais associados à pequenos roedores silvestres, que podem transmitir a Hantavirose pela urina. “A hantavirose pode ser causada por diversos vírus da mesma família. Alguns com sintomas mais leves e outros com sintomas mais graves, mas todos podem levar ao óbito, por isso da preocupação”, explica.
O desmatamento e, especialmente, a produção intensiva de grãos nessas áreas, elevam a preocupação, uma vez que os animais que transmitem o hantavírus podem usar as culturas como fonte de alimento, aumentando consideravelmente sua população e interagindo mais com as famílias que trabalham nas fazendas e moram nas regiões próximas. “Mato Grosso já tem mais casos que a média do restante do país e vemos índices elevados da doença na região de Sinop, Tangará da Serra e Diamantina, onde já acontecem surtos esporádicos”, alertou.
Os sintomas de Hantavirose nos casos leves podem ser confundidos com outras zoonoses, como Dengue e Chikungunya, o que, de acordo com o professor, também contribui para uma subnotificação dos casos. Nos casos mais avançados, o vírus ataca o pulmão, causando dificuldade para respirar, aceleração dos batimentos cardíacos e tosse seca, desenvolvendo um quadro de “Síndrome Cardiopulmonar por Hantavírus”.
Por causa da forma de transmissão, os mais vulneráveis são as que não tem saneamento adequado e moram em áreas “periurbanas”, onde atividades rurais e urbanas se misturam.
“A melhor medida profilática para a questão dessas doenças é manter as florestas em pé. Floresta saudáveis e com alimento, para que os mamíferos não precisem procurar por comida nas cidades. E onde você tenha um balanço entre o número desses animais e seus predadores e competidores”, concluiu.
A pesquisa foi desenvolvida pelo Grupo de Ecologia Aplicada (Geca), da UFMT, em parceria com o Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT), Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), o Centro de Pesquisa em Virologia da Universidade de São Paulo (USP), A Oregon State University e a University of East Anglia, informa a assessoria.