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A escolha, o conflito e o erro

Paulo Bellincanta é pecuarista em Mato Grosso - [email protected]
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Quando estou em um bar, concordo com aquele que estiver falando mais alto.

Quando estou ouvindo discussão sobre time de futebol ,concordo com os mais insanos.

Quando vejo briga entre o forte e o fraco, concordo com o fraco, ao mesmo tempo, que não tiro a razão do forte.

Quando ouço briga de marido e mulher, concordo com os dois.

Quando vejo a radicalidade conflitar com interesses escusos, não posso concordar com nenhum dos dois.

Se a vida é feita de escolhas, está em minhas mãos concordar com isto ou aquilo, contudo existem conflitos que nos obrigam a concordar com coisas que não aceitamos, ou nos forçam a tomar partido sem  nos consultar,  e há os que  não concordamos sequer com a existência deles.

Se por um lado as escolhas são opcionais, por outro os conflitos são intrínsecos ao ser humano.  Ouso pensar que não haveria evolução sem uma boa dose de conflitos, pois dele nasce a necessidade da articulação para o convencimento e do pensamento. O raciocínio se desenvolve a partir da exigência e da necessidade de resposta ao  conflito entre o desconhecido e a razão.

O ser humano, portanto, é um ser que a partir de sua origem, está em permanente conflito.

O fato é que  existem pessoas abençoadas outras, nem tanto, que estão em permanente conflito. Difícil dar ou tirar a razão delas, apenas pelo fato do permanente estado de conflito. Metidos em embates estão aqueles que puxarão a evolução da espécie humana, e aqueles que querem negar a necessidade de raciocinar. De qualquer maneira não podemos lhes tirar o direito da liberdade de expressão.

Quero passar rapidamente pelos espectadores, que incapazes de criar e desenvolver raciocínio próprio, juntam-se  a torcida de um dos lados, e  fogem dos conflitos pelo simples fato de não precisar se incomodar ou  raciocinar.  Assim, por conveniência não dão razão para nenhum dos lados e tomam partido do que lhes convenha para beneficio próprio.

Discordar com os dois lados de um conflito exige opinião própria e enfrentamento, não apenas de um dos lados, mas dos dois ao mesmo tempo. Indicar erro,  requer confiança, ao mesmo tempo que chama para si o destino de um conflito, do qual se poderia muitas vezes, passar despercebido.

O Brasil, se não fosse a pandemia que nos entristece, estaríamos  vivendo um momento de ouro. A história deverá contar, mas com certeza havia muitas décadas que não experimentávamos um momento tão próspero e tão rico para nossa evolução. O conflito de ideias com a participação maciça de personagens cultos e ignorantes, honestos e corruptos, inteligentes e medíocres, honrados e presidiários, bandidos de toga e de cela, trabalhadores formais ou informais, jovens e aposentados. Enfim uma sociedade em ebulição e confronto de ideias que sem qualquer dúvida nos levaria a uma evolução.

O triste neste momento é que o conflito ganhou força, tamanho e entusiasmo tais que empalideceram a razão, e no instante que ele se instala, surge um mal maior e comum a todos, uma pandemia que coloca a sociedade em risco, contudo, o combate continua,  a pandemia fica em segundo plano e é nessa hora que todos perdem a razão.

Surgem os amigos do rei interessados apenas com seus negócios e criam o dilema: morrer pela doença ou pela fome? A partir disso é criada a narrativa do desemprego, da falência das empresas, da insegurança, da catástrofe econômica que prevalecem sobre a  morte.  Embaralharam –se as premências e ignora-se a questão da pandemia. Há dezenas, centenas e milhares de opiniões, que emanam nas redes sociais como verdades absolutas, criando uma insegurança na população, ao mesmo tempo em que dão razão a quem “possa interessar ”.

Interesses pessoais afloram em personagens que almejam o poder tornando-os cegos, na busca de oportunidades que possam alçá-los a postos mais altos.  Grupos que se criaram à sombra dos poderes, tornam-se sanguessugas destes e  veem na catástrofe a sua tábua de salvação. Poderes constituídos perderam a moral e passaram a ser usados como verdadeiros balcões de negócios, tomando parte em um dos lados e induzindo a um desfecho pela eliminação do lado oposto.

Neste momento o foco do combate ao mal comum é perdido e se acirram picuinhas às margens do problema maior.

Na tentativa de prejudicar um dos lados do conflito, votações foram feitas, não para ajudar, mas pelo contrário, para criar embaraços. Decisões emanadas da corte maior, proferidas como sentenças acusatórias, não emanam da luz da constituição, mas sim da cabeça do sentenciador. Aqueles , que deveriam cobrir de informações e orientações na prevenção da pandemia,  estão preocupados com o conflito em si, e em outros campos de batalha.

Onde estão as preocupações com a pandemia?  Com as vidas perdidas que poderiam ser poupadas? Com um plano nacional de contingência?

A história deverá mostrar muito claramente o erro deste nosso momento. Com certeza nos colocará muito próximos aos escravocratas e déspotas dos desprotegidos e pobres do nosso país. Seremos apenas os senhores que viraram as costas para um mal maior e se ativeram ao poder, a manutenção do status e de suas corporações em detrimento aos mais vulneráveis. Uma população inteira que se deixa levar como manada entretida em disputas fúteis perante o valor da vida.

“Quando vejo a radicalidade conflitar com interesses escusos, não posso concordar com nenhum dos dois.”

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