A administração da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) reagiu, ontem, contra a detenção provisória dos 12 pesquisadores que foram apreendidos, quinta-feira passada (14), em Barra do Garças (na divisa com Goiás) sob a suspeita de estarem aplicando um golpe na população local ao tentarem coletar sangue para realização de testes para detecção do novo Coronavírus. Após denúncia de moradores, a polícia, sem saber que se tratava de uma pesquisa, deteve o grupo durante toda a tarde na delegacia da Polícia Civil, onde os pesquisadores prestaram depoimentos e foram liberados no final da tarde.
A polícia foi chamada por moradores que suspeitaram dos trabalhos. Situação semelhante foi registrada em outras cidades e gerou repercussão em todo o Brasil. Os pesquisadores também tiveram que se explicar às polícias de Santarém (PA), São Mateus (ES), Imperatriz (MA), Picos (PI), Patos (PB), Natal (RN), Crateús e Serra Talhada (CE), Rio Verde (GO), Cachoeiro do Itapemirim (ES) e Caçador (SC). Em Mossoró (RN), a equipe foi acusada de violar a quarentena e em Crateús (CE) as autoridades informaram que não tinham condições de garantir a segurança do grupo.
Ontem a administração da UFPel lamentou os atos de resistência e informou que trata-se da pesquisa Epicovid-19-BR, que, segundo a Universidade, é o “maior estudo populacional sobre o coronavírus no Brasil” e coordenado pelo Centro de Pesquisas Epidemiológicas da instituição. Por nota, informou que o estudo é financiado e apoiado pelo Ministério da Saúde, com aprovação da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, e que, para a coleta de dados, foi contratado, após processo seletivo, o Ibope.
“O Ministério da Saúde responsabilizou-se por contatar os 133 municípios participantes da pesquisa, o que ocorreu por meio de ofício durante essa semana. Além disso, o estudo está divulgado na capa da página oficial do Ministério da Saúde. Infelizmente, desde o início do trabalho de campo no dia 14 de maio, as equipes da pesquisa vêm passando por diversas situações constrangedores, amplamente noticiadas na mídia. Em quase 40 cidades, os pesquisadores estão de braços cruzados, esperando autorização dos gestores municipais, num processo burocrático que pode causar prejuízo aos cofres públicos, visto que a pesquisa é integralmente financiada com recursos públicos”, diz trecho da nota.
Segundo a UFPel, a pesquisa é realizada por aproximadamente 2 mil “que estão trabalhando para sustentar suas famílias, numa pesquisa que pode salvar milhares de vidas, e que mereciam proteção das forças de segurança e uma salva de aplausos por parte de toda a população. Ao contrário, as forças de segurança, que deveriam proteger os entrevistadores, foram responsáveis por cenas lamentáveis e ações truculentas, algumas delas felizmente registradas”.
Os gestores da Universidade admitem que o comunicado do Ministério da Saúde pode ter chegado muito próximo da data de início dos trabalhos, mas chamaram os prefeitos das cidades que impõe as barreiras de “xerifes” e citaram com bom exemplo a prefeitura de Manaus (AM).
“Em meio a uma pandemia sem precedentes, o Brasil mereceria que todos os gestores municipais, das 133 cidades incluídas na pesquisa, tivessem o mesmo comportamento da Prefeitura de Manaus, a cidade mais afetada pela pandemia no país, e que mesmo assim, foi a primeira na qual a coleta de dados foi encerrada”.