É coisa de rotina, de quem quer mudar o mundo, os sofrimentos, os inconvenientes e os ferimentos…
Por vezes, nossos valores, a forma como vivemos e sentimos são revérberos da sociedade em que estamos. De quando em quando, embutimo-nos nessa forma (ou fôrma) de viver.
A economia tem que crescer, se não crescer é uma tragédia! Dizem! Ora, o desenvolvimento, qualquer desenvolvimento, para ser “verdadeiro”, deve ser integral e precisa beneficiar todas as pessoas e a pessoa inteira, em todas as suas dimensões.
Minha mãe diz que a vida só vale se nós gastarmos. Ela nos escapa e não há possibilidade de ir ao supermercado comprar vida; não há indústria, shopping que a comercialize… isso é meu pai quem diz.
Tudo se compra, menos a vida. Esta se gasta e ocupa, pois é nos dada vazia. Amamos a vida. “Amor é coragens. E amor é sede depois de se ter bem bebido”, isso escreveu Guimarães Rosa.
Pode-se viver, por que se nasceu. Uma barata, uma formiga também nascem. O ser humano é (animal) consciente, somos capazes de nos dar uma vereda, orientação, direção, um caminho: “Caminante, no hay camino, se hace camino al andar”.
Veja bem, se você, amigo leitor, não se der seu rumo, não se preocupe, alguém ou algo o dará, com a possibilidade de ser uma viagem inútil (turista ou peregrino, é a metáfora de Zygmunt Bauman). A outra opção é que você seja o viajante. Ora, numa viagem o mais importante ainda é o viajante.
Ortega y Gasset, em suas Meditações do Quixote, apresenta-nos sua famosa sentença “eu sou eu e minhas circunstâncias”, letras que parecem apontar para uma subjetividade que só pode ser construída de maneira relacional, como “ser-com”, o que descarta a noção de substância alojada em um mundo à parte.
“Em casa”, vamos pela vida tendo que arcar conosco mesmos. A todo tempo recebendo fragmentos, neste “tempo de fragmentos”. E o tédio existencial, aquele que diz da vida vazia, onde não suportamos o tempo porque o tempo não é preenchido, ele não faz sentido, não flui. Saber não fazer nada é coisa difícil, veja o mestre Manuel de Barros.
“De casa” não vemos muito… as árvores não revelam a floresta, esta se compõe de muitas outras árvores que não vemos. Ortega diz algo importante sobre isso: “Desconocer que cada cosa tiene su propia condición y no la que nosotros queremos exigirle es, a mi juicio, el verdadero pecado capital, que yo llamo pecado cordial, por tomar su oriundez de la falta de amor. Nada hay tan ilícito como empequeñecer el mundo por medio de nuestras manías y cegueras, disminuir la realidad, suprimir imaginariamente pedazos de lo que es.”
As forças interiores da vida humana ainda se mostram largamente ocultas para nós. Do interior homem algum sabe muito…
Ouvi uma história aqui no interior que me ajuda a dizer o que talvez ainda não consegui. Um senhor caminhava pelas ruas de uma cidade. As pessoas o tinham por louco. Ele levava um espelho na mão e se olhava fixamente. Não tirava os olhos do espelho. Um dia perguntaram para ele — O que está fazendo? — Ele disse— Controlando o inimigo.