“Jatos de água”, álcool e água sanitária fizeram parte do banho de desinfecção pelo qual alunos tiveram que passar para retornar da Bolívia para Mato Grosso. Desde o dia 22 iniciou-se uma força-tarefa para trazer as 200 pessoas que estavam morando e estudando no país vizinho. Por conta do coronavírus, uma série de dificuldades foram enfrentadas pelos mato-grossenses, desde proibição de sair de casa com multas de R$ 800 e ainda prisão para quem descumprisse. A crise financeira e até mesmo necessidades foram vividas por eles.
Claisa Lemes é moradora de Nova Mutum (264 km ao norte de Cuiabá) e estuda medicina na Bolívia. Ela relata a apreensão no país vizinho onde estavam “impedidos” de deixar. A estudante conta que a situação na Bolívia está quase insustentável pela questão da pandemia. Tanto que a população fica impedida de sair de casa. A saída só é permitida uma vez por semana e com horário estipulado, das 7h às 12h. Depois deste horário quem for pego na rua é preso e paga multa de mil bolivianos, o que equivale a R$ 812. Além da multa, a pessoa fica presa por 24 horas. “Foi muito especial poder voltar para casa. Tirei um peso das minhas costas, estava muito preocupada e muito ansiosa para voltar”, diz Claisa. O retorno dos alunos iniciou no dia 22 com a saída em Santa Cruz de La Sierra. A chegada na fronteira de Corumbá (MS) ocorreu às 8h de quinta-feira (23). De lá, os estudantes foram para suas casas, onde deverão permanecer em quarentena. Foram 2 dias de viagem.
L.B.S é moradora da cidade de Mirassol D’Oeste (300 km ao oeste), também confirma o temor de continuar no país vizinho. A jovem confirma ainda que muitos amigos já estavam até sofrendo com falta de alimentos. Ela frisa que até tentou retornar, mas o fluxo de carros, ônibus e outros meios de transporte estava proibido, permitidos apenas trânsito de veículos de instituições essenciais. Ela destaca ainda que o ritual de retorno foi uma das coisas que mais chamou a atenção.
“Passamos por um processo de desinfecção dos ônibus, das malas e de cada pessoa. Em todos alunos foram passados álcool, água sanitária e água. Fizemos teste para verificar a temperatura do corpo, isso tanto em território boliviano, quanto brasileiro”, frisa.
G.A.S, também moradora de Mirassol D’Oeste, destaca que causou espanto a forma com que os alunos foram “lavados” para evitar qualquer contaminação. “Parecia até irreal. Sei que são medidas de precaução, mas penso que poderiam ser diferentes. Tiraram todas nossas malas do ônibus e lavaram. Descemos um por um e nos lavaram literalmente, saímos encharcados do ônibus. Mesmo assim estamos felizes de voltar para casa, não tinha qualquer condição de ficar”, avalia.