São tempos difíceis para a política em Cuiabá. Assisto, estarrecido, aos desdobramentos que levam a Câmara Municipal de Cuiabá a votar a cassação do mandato do vereador Abílio Júnior – um parlamentar que atua de forma ativa em oposição à gestão do atual prefeito.
Como vereador licenciado desta mesma Casa de Leis, manifesto o meu apoio e solidariedade ao Abílio, sobretudo por entender a importância das ações exercidas pela oposição, em diversos níveis, na democracia.
Exerci, por dois anos, o cargo de vereador em Cuiabá e vivi todas as dificuldades e limitações que um político de oposição à atual gestão municipal sente. E, neste momento decisivo, não posso me calar ou me omitir, porque acredito que o rumo de todos os acontecimentos relacionados à cassação do Abílio esteja muito equivocado.
A postura de contestação deveria ser extremamente válida em qualquer cargo político, mas especialmente relevante para a atuação de um vereador.
Não é o vereador quem deveria representar os anseios da população no âmbito do poder público municipal? Não é ele quem deve apontar equívocos de gestão? Não é o vereador, ator do Poder Legislativo, quem deve apurar denúncias relativas ao Executivo? Pois então, se essas funções são corretamente exercidas, o vereador também deve ter a sua atuação respeitada.
Não falo aqui da possível cassação de um vereador de opinião nula e atuação ineficaz. Me refiro a um parlamentar que contribuiu para o despertar da Operação Sangria, investigação relacionada a um ex-secretário de Saúde de Cuiabá e que culminou em denúncias gravíssimas e prisões. Me refiro a um vereador que muito provavelmente incomoda a atual gestão municipal por meio de uma atuação baseada em questionamentos, contestações e, principalmente, investigações.
O meu maior pesar é perceber que um dos vereadores mais atuantes de Cuiabá pode ser injustiçado exatamente por ter exercido – de forma agressiva, sim – a sua função.
Ao meu ver, caso se concretize, a cassação ao Abílio será recebida pela população como a ausência de qualquer esperança ou crédito na maioria dos nomes que compõem a Câmara Municipal. Afinal, por que cassar o mandato de um parlamentar que defende posicionamentos autênticos e que dá força à (já escassa) oposição?
Termino o meu raciocínio da forma como comecei: são tempos difíceis para a política em Cuiabá.