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COP25: Favelas versus cidades inteligentes + verdes

Eduardo Chiletto, arquiteto e urbanista, presidente da AAU-MT,
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Na Conferência Climática das Nações Unidas (COP25), na Espanha, foi discutida uma ação política imediata aos governos nacionais para impor práticas responsáveis ​​de planejamento sustentável, melhoria do bem-estar humano e igualdade social, assim como a redução significativa dos riscos ambientais e dos desequilíbrios ecológicos.

Em meio às discussões, estão as novas cidades sustentáveis inteligentes + verdes, que são projetadas por arquitetos e urbanistas em vários países usando Tecnologia de Informação e Comunicação e Inteligência Artificial. Frente a isso, lembrei-me de um dos mais influentes poetas do século 20, Carlos Drummond de Andrade, ao citar as Favelas (1979), que existem em grande número nas nossas cidades.

“São 200, são 300 as favelas cariocas? O tempo gasto em contá-las é tempo de outras surgirem. Onde haja terreno vago onde ainda não se ergueu um caixotão de cimento esguio (mas se vai erguer) surgem trapos e panelas, surge fumaça de lenha em jantar improvisado. Que fazer com tanta gente brotando do chão, formigas de um formigueiro infinito? Ensinar-lhes paciência, conformidade, renúncia? Cadastrá-los e fichá-los para fins eleitorais? Prometer-lhes a sonhada, mirífica, rósea fortuna distribuição (oh!) de renda? Deixar tudo como está para ver como é que fica? Em seminários, simpósios, comissões, congressos, cúpulas de alta prosopopeia, elaborar a perfeita e divina decisão?…”

O imortal Arquiteto Julio De Lamônica Freire, em um trecho de um discurso de formatura disse: “(…) Em um mundo conturbado e inquieto, em que as fronteiras estão sendo rompidas, mas o convívio e o compartilhamento não estão sendo construídos, geramos novas formas de violência, segregação e exclusão, então, o lugar assume importância cada vez maior, na medida em que se constitui na possibilidade de mudança e ruptura”.

Então, o espaço atua como baliza e referência de conhecimento e como valor, colocando-se como uma das questões cruciais desse novo milênio, com a constituição de blocos para além de estados como o da União Europeia, ao lado do acirramento de conflitos por Estado (Palestinos e Judeus). Como profissional que tem o espaço como objeto de trabalho, qual o papel do arquiteto nesse novo horizonte de humanidade?

Para que possamos encontrar respostas para essa questão, é importante lembrar que a espécie humana é composta por seres datados e situados. Desde o nosso nascimento, buscamos construir relações significativas. Por isso, tomamos espaço e tempo como referência, nosso corpo e a nossa mente se desenvolvem numa relação de interação com espaço e tempo.

Ao entender que o nosso corpo é espaço expressivo e expressão de todos os espaços, como descreveu o filósofo francês Merleau-Ponty, refletimos que o homem mora no espaço e no tempo. Isso quer dizer que não estamos dentro do espaço e do tempo e sim que nós os habitamos.

Acredito ser esta a maior lição a ser dada os representantes da União Internacional de Arquitetos (UIA), que pedem para a COP25 “uma ação política imediata para impor práticas responsáveis ​​de construção e arquitetura sustentável e design urbano”, assim ocorre em relação aos conselheiros do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU) sobre o mundo em que vivemos, pois com disse Le-Corbusier:

“(…) A morada é um continente que responde a certas condições e estabelece relações úteis entre o meio cósmico e os fenômenos biológicos humanos. Um homem (ou uma família) nela dormindo, andando, ouvindo, vendo e pensando. Para seus pulmões uma determinada quantidade de ar. Para seus ouvidos, um quantum suficiente de silêncio. Para seus olhos uma luz favorável.”

As tecnologias de informação e comunicação estão hoje ao alcance dos profissionais e gestores públicos, entretanto, deveriam ser utilizadas em prol de construirmos nossa morada no planeta Terra, de modo ecologicamente correto e mais humano, sem segregações e favelas.

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