As discussões sobre os grafites pintados no viaduto de São Cristóvão, em Sinop, que trazem as imagens da ativista sueca Greta Thumberg e do cacique Raoni Metuktire, pintadas pelos artistas Rai Campos e Matias Souza, e que revoltaram parte da população local fazendo com que prefeitura pedisse a remoção da arte, chegou à Assembleia Legislativa de Mato Grosso. Ontem, o deputado Lúdio Cabral (PT) leu, no plenário, uma “carta em apoio às artes e contra a censura” assinada por artistas de várias cidades mato-grossenses e lamentou o que classificou de “reação sem sentido”.
“O que poderia ser uma celebração, na capital do nortão mato-grossense, da diversidade e da multiculturalidade do nosso povo, infelizmente se converteu num exemplo muito triste de uma reação absolutamente sem sentido, com viés de censura e bastante negativo para Sinop, para Mato Grosso, para a população Brasileira e para a diversidade de opinião, de pensamento, de manifestação e para a liberdade de expressão no nosso país”, afirmou após a leitura do manifesto.
Na carta, os artistas repudiaram “a forma arbitrária e antidemocrática” daqueles que, segundo eles, “censuram a expressão artística. Em diversas mídias foi divulgado que as obras serão apagadas e serão pintadas outras imagens no local com justificativas infundadas que se caracterizam como intolerantes e sem o mínimo de compreensão do papel da arte para a sociedade”.
O texto destacou a Constituição Federal que garante a liberdade de pensamento e expressão artística como direito fundamental e lembrou que os artistas fazem parte de uma geração que democratiza a arte por meio do grafite, arte institucionalizada que integra museus e galerias, mas, principalmente as ruas, tornando-se acessível gratuitamente à população.
“Queremos, portanto, reiterar o nosso posicionamento e ressaltar a importância da liberdade de expressão e respeito às manifestações culturais que fortalecem a democracia”, conclui a carta.
Após ganhar repercussão negativa entre parte dos moradores, de ter a pintura vandalizada com os dizeres “Lula tá preso babaca” e ganhar destaque na mídia nacional, a prefeitura de Sinop decidiu remover o grafite do viaduto que fica no bairro São Cristóvão, sobre a BR-163.
Conforme Só Notícias já informou, o diretor municipal de Cultura, Daniel Coutinho, afirmou, que o pedido para que a imagem seja modificada tem outro motivo que a reclamação política. “Na verdade, a gente vai pedir para que seja seguido o projeto, em que todas as artes teriam que ser voltadas para a fauna e a flora. Diante disso, não querendo, em momento algum, censurar qualquer trabalho que seja, até porque a gente acredita que a diversidade cultural tem que acontecer e existir, mas, devido, a não estar dentro dos padrões iniciais do projeto contemplado, a gente vai pedir que este último pedaço, onde está a imagem da Greta, seja revitalizado dentro do proposto”.
De acordo com Daniel, as revitalizações dos dois viadutos foram feitas por meio de projetos de incentivo, um local e outro nacional. O primeiro, no viaduto central, foi feito durante as festividades do Celebra Sinop, há cerca de duas semanas. O segundo, no São Cristóvão, foi por meio de um incentivo nacional, que resultou no 1º Encontro Internacional de Grafitti, com a presença de artistas de outros estados e países.
“De todas as imagens, 95% trabalharam a fauna e a flora. Porém, no término, na última imagem (feita neste domingo), eles fizeram a imagem da garota. Quero manter o diálogo. Em uma pré-conversa que a gente teve hoje, houve um posicionamento de que é possível acontecer (retirar a imagem da ativista). Tem todo um contexto. É importante que eles deem sequência”, afirmou Daniel.
A imagem do cacique Raoni Metuktire, também pintada no viaduto do São Cristóvão, porém, deve ser mantida. “Esta é outra situação. É um elemento que está dentro do cenário. Eles trabalharam dentro do projeto os índios. Então tem uma índia também. A gente até vai propor que a imagem da Greta seja transformada em uma índia”, finalizou.
Greta Thunberg – Com apenas 16 anos, a ativista ganhou notoriedade após iniciar um protesto pelo meio ambiente que levou às ruas mais de 1,5 milhão de estudantes em 100 países. Recentemente, a jovem discursou durante a Cúpula do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU), diante de centenas de líderes globais. Também foi indicada para o Prêmio Nobel da Paz por deputados noruegueses e considerada a mulher mais influente do ano na Suécia, além de um dos 25 jovens mais influentes de 2018.