Ex-ministro da Agricultura, Blairo Maggi (PP), põe fim a sua “quarentena” e fala pela primeira vez sobre o governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL), demonstrando preocupação e temor com o futuro do agronegócio em consequência ao radicalismo no discurso do presidente em relação ao meio ambiente. Ao jornal Valor Econômico, Maggi, que apoiou Bolsonaro na campanha, assim como os principais barões do agronegócio mato-grossense, teme que o mercado internacional inicie uma retaliação ao governo brasileiro, o que pode prejudicar as exportações de commodities do país.
“Podemos sim ter fechamento de mercado. Temos uma relação muito complicada com a Europa. Para criarem mais mecanismos para dificultar a entrada de carne de frango ou outros produtos do Brasil, é dois tempos. E depois para levantar isso é muito difícil, todo mundo está vendo”, disse o ex-ministro.
Blairo classificou como “confusão” os discursos de Bolsonaro sobre o tema, e que, apesar do governo ainda ficar só no discurso, o setor produtivo já estaria “pagando um preço muito alto”. “Acho que teremos problemas sérios.Não tem essa que o mundo precisa do Brasil. Talvez precisem dos agricultores brasileiros em outros países, mas somos apenas um ‘player’ e, pior: substituível. O mundo depende de nós agora, mas daqui a pouco se inverte e ficamos chupando dedo”, declarou.
Blairo Maggi também firma que o governo Bolsonaro vem desconstruindo tudo o que o Brasil conquistou, como a confiança do mercado, após mostrar que era possível produzir e preservar ao mesmo tempo. “Já tínhamos ganhado confiança do mercado, mas com esse discurso [do governo], voltamos à estaca zero. E aqui faço uma analogia: o Brasil tinha subido no muro e passado a perna para descer do outro lado, agora fomos empurrados de volta e para bem longe do muro. Não veja como crítica feroz, mas sim como um alerta”, analisou.
Maggi também acredita que o tom do discurso do presidente poderá prejudicar e até atrasar o acordo Mercosul-União Europeia. Para ele, a Europa poderá barrar importações do Brasil, já que existem países que não querem o acordo e que podem aproveitar para que ele não chegue a ser concretizado.
Já em relação ao Fundo da Amazônia, Maggi acredita que o país não precisaria deste recurso, já que o dinheiro não chega para quem precisa. Para ele o melhor seria um Fundo Mundial para investimento em Saúde e Educação.
“Tudo vira viagem, estudos, relatórios, congressos. Vá no interior da Amazônia em qualquer município e pergunte se alguém recebeu algum benefício por abrir mão do ‘progresso’ em nome da preservação. Agora, sou defensor de um fundo mundial para repassar uma saúde e educação de qualidade a esses brasileiros da floresta. Um fundo que pudesse fazer com que o dinheiro chegasse na ponta para quem abre mão do desmatamento. As pessoas que estão na beira do Rio Amazonas, por exemplo, não ganham nada”. (com informações do Valor Econômico)