Previno o leitor, como os filmes previnem: “qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência”. Então, vamos pensar. Em 6 de setembro último, Adélio Bispo esfaqueia o candidato líder na campanha, que são não morre porque foi bem atendido. Imediatamente aparecem advogados para defender o agressor. No mesmo dia e hora em que ele esfaqueia, o nome do agressor está registrado como visitante de algum deputado federal em Brasília. A polícia tenta saber a origem do dinheiro que pagou caros advogados, e a OAB entra na Justiça e impede. Preso, o agressor é declarado inimputável, mas fica guardado como demente.
Enquanto isso, recém-reeleito, um deputado renuncia e vai para a Europa, deixando no lugar o suplente que é marido de um americano. O americano, meses depois, começa a divulgar produto de uma invasão ilegal de privacidade; mensagens entre o juiz da Lava-Jato e o procurador que coordenou as investigações. A polícia localiza e prende os autores confessos da invasão e descobre que eles fizeram o mesmo em telefones das mais altas autoridades da República. E descobre também uma maleta com 99 mil reais e movimentação bancária de mais de 600 mil.
Um deles confessa que a intermediária para chegarem ao jornalista americano foi a ex-deputada e companheira de chapa de Haddad, Manuela d´Ávila, que alega apenas ter fornecido o telefone. Ou seja, os hackers descobriram os telefones de todas as maiores autoridades, só não conseguiram o do americano; então chegaram ao telefone da ex-deputada, que lhes forneceu o número desejado. Como hackers politizados, preferiram invadir mensagens de autoridades, ao invés de flagrar vítimas mais endinheiradas que tenham amantes, por exemplo. Renderia mais e seriam protegidos pelo silêncio. Fontes confessas das invasões ilegais, eles foram considerados “fontes confiáveis” pelo receptador delas e pelos que tratam produto de crime como notícia.
Tudo muito estranho. Vale a pergunta: qual o objetivo? A quem interessa? Ora, o objetivo duplo é enfraquecer a Lava-Jato e proteger corruptos. Você há de perguntar como alguém pode aplaudir isso. Pois há quem aplauda o crime e torça contra a lei. Na Itália também houve reação contra a operação Mãos Limpas. Aqui, a reação vem da organização que armou um grande esquema de corrupção que saqueou estatais, principalmente a Petrobras. Para os apoiadores desse esquema, que tiveram as torneiras e tetas fechadas pela Lava-Jato, vale tudo. E quem olha os acontecimentos, percebe que tudo está ligado, ou é mera coincidência.