Os depoimentos do ex-comandante da Polícia Militar, coronel Zaqueu Barbosa, e do ex-chefe da Casa Militar, coronel Evandro Lesco, prestados ontem em Cuiabá, apontando a participação do Ministério Público Estadual nas escutas ilegais feitas nos telefones de políticos, magistrados e jornalistas, que ficaram conhecidas como Grampolândia Pantaneira, repercutiu entre os deputados na Assembleia Legislativa, que sugerem desde explicações do procurador-geral de Justiça do Estado, José Antônio Borges, até a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI).
A deputada Janaína Riva (MDB), que, segundo os depoimentos, teria sido grampeada, pediu que o parlamento convoque o procurador para prestar esclarecimentos aos deputados sobre o que ela classificou como exposição de uma “banda podre” da promotoria.
“A sociedade precisa de uma resposta e que os culpados sejam punidos com a mesma mão de ferro que o MPE usa para acusar aqueles que não fazem parte da instituição. Se fosse aqui na Assembleia, já teria um monte de policial com mandados de busca e apreensão para levar servidor, apreender documentos, computador e com pedido de afastamento do deputado. Quando se trata da Assembleia é desse jeito que funciona. E ninguém iria querer saber se o deputado teria ligação com aquela situação ou não”, declarou Janaina.
Outro grupo de deputados cogitou com o presidente da Assembleia, Eduardo Botelho (DEM), a abertura de uma CPI para apurar a participação dos promotores na Grampolândia Pantaneira, mas o parlamentar pregou cautela.
“Existe um sentimento de alguns deputados no sentido de se fazer uma CPI. Eu pedi para eles aguardarem, porque vamos pedir a vinda do procurador-geral para ele vir aqui conversar com os deputados, fazer alguns esclarecimentos, aí a gente vai poder tomar uma decisão”, disse esta manhã.
Ontem mesmo o procurador-geral de Justiça do Estado, José Antônio Borges, determinou a instauração de procedimento administrativo para apurar as acusações e também o suposto desvio de finalidade do uso de “verbas secretas”, também delatadas pelos coronéis, que seriam sobras do orçamento utilizadas em operações.
Outro lado
Em nota, o procurador-geral do Ministério Público do Estado de Mato Grosso, José Antônio Borges Pereira emitiu um despacho avulso interno hoje (17) que visa levantar as informações relacionadas à destinação da placa de computador da marca “Wytron”, utilizada para realização de escutas telefônicas. A iniciativa foi tomada levando em conta notícias divulgadas pela imprensa a respeito da suposta doação da referida placa pelo Ministério Público à Polícia Militar, citada em depoimento de policiais militares à justiça no caso conhecido como “Grampolândia pantaneira”. O procurador-geral determina, ainda, a juntada ao procedimento gerado a partir do despacho da cópia integral do SIMP (Sistema Integrado do Ministério Público) de nº 006070-001/2017, em que o Ministério Público presta informações ao Comando Geral da Polícia Militar referentes à destinação da placa “Wytron”, assim como das notícias veiculadas pelos meios de comunicação sobre o assunto. Tomadas tais providências, o procurador José Antônio Borges Pereira ordena “a remessa do procedimento gerado à Corregedoria-geral do Ministério Público para conhecimento e providências julgadas pertinentes, com cópia integral ao Núcleo de Ações de Competência Originária – NACO Criminal”, conclui a nota do MP.