Num momento em que muito se discute sobre empoderamento, representatividade e aceitação do corpo, os ditos padrões estéticos, que por tanto tempo foram predominantes no imaginário da sociedade, ainda resistem, mesmo que de forma velada ou inconsciente. O fato de elogiar quem está perdendo peso, por exemplo, pode disseminar o pensamento e incentivar graves distúrbios alimentares. Em entrevista ao Purepeople, a psicóloga clínica Vanessa Tomasini alerta sobre como enaltecer a magreza pode fortalecer esse comportamento: “Se uma pessoa está num processo de emagrecimento, quem está ao redor valoriza muito isso. Quando alguém emagrece, a primeira coisa que a gente faz é elogiar, mas, quando a pessoa engorda, ninguém fala a respeito, porque não é de bom tom.”
‘Existe um exagero para poder se manter naquele padrão’
Ao contrário do que acontece hoje em dia, o corpo não deveria ser uma forma de elogio, acredita a idealizadora do projeto #VcTemFomedeQue?, que busca reavaliar a relação das pessoas com a comida e com o corpo. Isso ganha um peso emocional e pode influenciar de forma negativa, principalmente, na rotina alimentar: “O elogiado e o bem visto é essa magreza, esse corpo sequinho. E, obviamente, a partir do momento que querem ter esse corpo ideal, passam a restringir a alimentação, ou passam a fazer mais exercícios físicos do que necessitariam. De alguma forma, existe um exagero para poder se manter naquele padrão e isso modifica a relação com a comida.”
Relação com a refeição: ‘A comida perde todo seu contexto’
Com as dietas muito restritivas, o distúrbio alimentar pode começar a se camuflar e alterar o significado da comida. “O que deveria ser algo prazeroso, focado em fome, saciedade e de observar melhor aquilo que está sendo comido, começa a ser uma contagem de macronutrientes e de nutrientes”, aponta a profissional ao revelar um dos motivos: “De maneira geral, essa pressão muito forte em manter esse corpo ideal é um dos colaboradores para que as pessoas percam essa naturalidade com relação à alimentação.” Sem levar em consideração o equilíbrio nutricional, as dietas da moda também podem incentivar esse comportamento. “Uma hora não pode comer glúten, outra hora não pode comer lactose, uma hora faz todo mundo low-carb, só coma coisas diet ou light. Tudo isso faz com que a população em geral fique em dúvida do que é melhor comer”, opina: “As pessoas recebem tanta informação sobre a forma de comer ‘melhor’ que chega uma hora que o comer se torna também um problema, porque ninguém sabe mais o que comer. O que muitas vezes antes era algo completamente natural, normal e tranquilo.”
(PUREPEOPLE)