A Procuradoria Geral de Justiça ofereceu denúncia contra o ex-secretário de Estado, Paulo Taques, no processo sobre as escutas telefônicas ilegais, conhecida como Grampolândia Pantaneira. Conforme a denúncia, o ex-secetário pediu para que fossem realizadas interceptações de comunicações telefônicas com objetivos não autorizados em lei. Ele pediu para investigar Tatiane Sangalli Padilha e Caroline Mariano, levadas a efeito no bojo das Operações Forti/Pequi e Querubim.
Segundo as apurações, Tatiane foi amante do ex-secretário entre os anos de 2009 até o início de 2015, quando ele assumiu a chefia da Casa Civil. “Durante a campanha para o governo do Estado em 2014, conforme é de amplo conhecimento da sociedade mato-grossense e, quiçá, brasileira, fora montado um escritório para realização de interceptações na modalidade ‘barriga de aluguel’, caso que passou a ser denominado “Grampolândia Pantaneira”, cita a denúncia.
Consta nas investigações que durante a transição de governo, Tatiane perdeu o cargo de assistente de gabinete e, então, no início da gestão de Pedro Taques passou a cobrar de Paulo Taques cargo, o que fora por ele negado, levando, portanto, ao término do relacionamento.
Ainda de acordo com as apurações, Tatiane continuava procurando Paulo Taques cobrando o pagamento da parcela de um veículo Renault Duster, no valor de R$1 mil, que o acusado havia se comprometido a arcar. Ela aparecia em eventos oficiais o que incomodava o então secretário da Casa Civil.
“Apurou-se, ainda, que durante o relacionamento com Paulo Taques, Tatiane Sangalli desenvolveu uma certa amizade com Caroline Mariano, funcionária do escritório de advocacia do acusado e, em janeiro de 2015, passou a trabalhar como secretária do denunciado na Casa Civil. O acusado, “preocupado com o término de seu relacionamento, já que Tatiane estava magoada e poderia atingi-lo expondo sua intimidade e, ainda, desconfiado que Caroline vazava informações de seu gabinete” para um jornalista de Cuiabá, “cujas matérias prejudicavam a imagem do governo, resolveu, então, monitorar os três”.
“Para dar cabo à sua vontade, Paulo Taques utilizou-se do conhecimento que possuía, de que Tatiane tinha amizade com Kelly Arcanjo, filha de João Arcanjo Ribeiro, e inventou uma ‘história cobertura’ de que através de Sangalli e Caroline o ‘Comendador’ obteria informações suficientes para planejar um atentado contra sua vida e do então governador Pedro Taques, seu primo”, descreve.
Diante da situação, segundo a denúncia, Paulo Taques se valeu do prestígio que ocupava e comunicou falsamente ao então secretário de Segurança Pública, Mauro Zaque, de que o governador à epoca corria risco de morte. “Para comprovar suas alegações, o denunciado apresentou uma folha A4 contendo supostas conversas telefônicas interceptadas – fora do padrão costumeiramente utilizado pelos órgãos de investigação oficiais – denotando que duas mulheres tramariam algo contra si e o então governador Pedro Taques”, diz um trecho do documento.
Por ter sido interceptada em 2014 e, durante as conversas, referia-se a Caroline como “amiguinha” e esta, por sua vez, dirigia-se a Tatiane como “loura”; daí os apelidos “Dama Loura” e “amiguinha”, que foram inseridos na Operação Forti,
A delegada Alessandra Saturnino e então secretário-adjunto de Segurança Pública, Fábio Galindo, se reuniram com Taques que apresentou três folhas de supostas ameaças ao governo. E então as informações foram repassadas à delegada de Polícia Civil Alana Darlene Cardoso, que comandava à época a Operação Forti
“Isto demonstra que a suposta ameaça contra a vida do Chefe da Casa Civil e do Governador nunca existiu, não passando de uma ‘história cobertura’ inventada pelo acusado para monitorar, ilegalmente, sua ex-amante e sua secretária”.
Segundo a denúncia, Taques ainda tentou interceptar ilegalmente o jornalista Muvuca, somente não conseguindo seu intento criminoso por circunstâncias alheias à sua vontade, já que a delegada de Polícia Alessandra Saturnino não “embarcou” em sua história.
Na denúncia caluniosa, o procurador-geral de Justiça, José Antonio Bortes, pede o arquivamento do inquérito policial em relação às investigadas Alana Darlene Sousa Cardoso e Alessandra Saturnino de Souza Cozzolino pela prática do crime previsto no art. 10 da Lei nº 9.296/1996, por atipicidade de suas condutas.
Em junho passado, o juiz da 7ª Vara Criminal de Cuiabá, Jorge Luiz Tadeu Rodrigues, rejeitou o pedido do Ministério Público de Mato Grosso (MPMT) que solicitava o arquivamento da denúncia contra o ex-chefe da Casa Civil, Paulo Taques, e das delegadas Alana Cardoso e Alessandra Saturnino, por crimes de interceptações de comunicações telefônicas sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei.
Com isso, os autos do processo foram remetidos para o procurador-geral de Justiça, José Antônio Borges, que ofereceu a denúncia nesta segunda-feira. De acordo com o magistrado, o pedido do promotor de Justiça, Reinaldo Rodrigues de Oliveira Filho, não demonstrou a ocorrência de nenhum dos fundamentos legais que justificassem o arquivamento do inquérito policial.
“Pelo contrário, as condutas investigadas apontam elevado grau de reprovabilidade e lesão à bem jurídico protegido pela Constituição Federal, porquanto as condutas, ora investigadas, enquadram-se, em tese, na prática delitiva consistente na quebra do sigilo das comunicações telefônicas, sem a devida autorização judicial”, diz trecho da decisão proferida em 11 de junho.
Segundo as investigações, Alana Cardoso coordenou, em 2015, a Operação Forti, cujos principais alvos seriam pessoas em associação com o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho de Mato Grosso (CVMT). Porém, na lista de pessoas interceptadas nessa operação também estavam as ex-servidoras Tatiana Sangalli Padilha e Caroline Mariano dos Santos. Ambas tinham vínculos estreitos com o ex-secretário da Casa Civil, Paulo Taques.
Responsável pelos principais processos de combate à corrupção e ao crime organizado em Mato Grosso, a juíza Selma Rosane Arruda, titular da Sétima Vara Criminal de Cuiabá, foi quem deu autorização para interceptar Tatiana e Caroline, em 26 de fevereiro de 2015. No entanto, as ex-servidoras eram identificadas como “Dama Lora” e “Amiguinha”, respectivamente.
Menos de um mês depois disso, houve um pedido para excluir “Dama Lora” e “Amiguinha” da lista de interceptações. E no dia 26 de março de 2015, a magistrada atendeu ao pedido do delegado Flavio Henrique Stringueta, então chefe da Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO), e permite que Tatiana e Caroline sejam grampeadas, dentro das investigações da