Estou quieto desde o 1º turno das eleições de 2018, quando fui candidato a deputado federal pela Rede Sustentabilidade. Foi uma campanha honesta, modesta, conceitual e colaborativa, mas não fui eleito. E decidi silenciar frente a um 2º turno no qual nenhum dos presidenciáveis me representava, assim como em 2016: Jamais apoiaria Wilson Santos ou Emanuel Pinheiro.
Hoje, abro os portais de notícias desse velho-centro-oeste em que vivemos e me deparo com o poste mijando no cachorro: Do fundo do poço moral em que se encontra, o sabe-se-lá-como-ainda-prefeito Emanuel Pinheiro ameaça processar os poucos e corajosos vereadores de oposição que recusaram cargos e outros benefícios em troca de fechar os olhos para a sua gestão tenebrosa.
Bizarro é que Emanuel não é só aquele cara que, entre piadas e risadas, deixou cair maços de dinheiro do paletó. É ex-professor de direito constitucional, e vê-lo rosnando e babando contra a imunidade parlamentar da qual já usufruiu como deputado tem objetivo: Pautar a imprensa, a quem a Prefeitura paga gordos anúncios. E ai de quem não publicar, e debulhando a oposição.
Emanuel também me processou nas eleições de 2018. Não o pai, mas o filho, que foi candidato a deputado federal assim como eu. Fazendo uma paródia dos Jetsons, coloquei o Emanuel-pai saindo da Prefeitura e recheando de dinheiro a nave de um garoto que, na sequência, voava para o Congresso. Como não havia qualquer menção ao herdeiro no vídeo, não fui condenado.
Mas a carapuça serviu, ou não teriam me processado. Agora, com a notícia de que delações denunciaram R$ 14 milhões guardados em quartos de motel para safadezas eleitorais, o divertido vídeo que me custou um processo passa a ter cara de profecia. Mas nenhum cuiabano precisa ser astrólogo como o Olavo de Carvalho para saber que a máquina pública municipal trabalhou pesado ali.
Antes que ambos os Emanueis me processem novamente, ressalto que não estou citando acusações outras além das que já existam na justiça, inclusive eleitoral – e me processar por falar o que é público e notório já é demais. O que quero fazer aqui é apenas colocar as peças na mesa e montar o inequívoco quebra-cabeça. E o que se vê? Que o prefeito Emanuel é um moribundo político.
Assim como o prefeito entrou na política para substituir seu pai, que havia falecido, seu filho de 24 anos também foi eleito para substituí-lo – mas por conta de sua morte política. O desespero de Emanuel para alocar o herdeiro implodiu o MDB, e enquanto Bezerra faz cara de paisagem, Valtenir mastiga seus calcanhares e Janaína Riva só mantém a posição de olho nos despojos.
Contudo, se até Emanuel-pai já sabe que não haverá perdão para ele nas urnas, essa ficha ainda não caiu para os vereadores que o apoiam. Qualquer cuiabano de 13 anos sabe que enfiar o dedo na tomada e manter Emanuel no Palácio Alencastro não são boas escolhas, mas parece que a maioria esmagadora da Câmara quer pagar pra ver em 2020. Meu apelo é que reconsiderem.
Já aos vereadores de oposição, que enfrentam não só o prefeito, mas também colegas e seus próprios partidos, fica aqui o meu reconhecimento: Para isso é que todos os representantes do povo deveriam ser eleitos, para representar o povo, ser a voz do povo. Sigam denunciando os cabides de emprego, o descalabro da saúde, a farra da Sec300 e dos empréstimos milionários.
E se o prefeito insistir em chamar a nossa turma de “molecada”, convido-os a encararmos isso como um elogio: Nossa geração chegou sim para por abaixo as estruturas carcomidas da política jurássica, desses neo-coronéis que, com dinheiro alheio pulando dos bolsos, fazem da República um negócio particular que passa de pai para filho, e um eterno poleiro para cabos eleitorais.
Fellipe Correa foi candidato a deputado federal em 2018 sem recursos do fundo partidário.