Como faz todos os anos, a ONU anuncia o Índice de Felicidade, classificando 156 países. A Finlândia está em primeiro lugar, como o país mais feliz do mundo, pelo segundo ano consecutivo. O Brasil está em 32º. lugar, o que não é mau, porque a Nação mais rica e poderosa da Terra está em 19º. Penso que o clima é um fator básico para a felicidade; por isso gosto tanto de morar em Brasília. E o país mais feliz tem um inverno de meio ano, sem ver sol, e temperaturas de 15 a 30 graus negativos – e um curto verão fresquinho e sem noite. Mas a ONU não leva isso em conta. Felicidade, para a ONU, é tamanho do PIB per capita, expectativa de vida, assistência social, liberdade e generosidade.
Imagino porque perdemos pontos em generosidade. Quem usa nossos impostos em proveito próprio, de modo egoísta, com certeza não é generoso, ainda que, com demagogia, faça generosidade com o dinheiro pago por quem trabalha. Imagino que em um país que tem 60 mil homicídios dolosos por ano, cada um desses crimes não seja um sinal de generosidade; tampouco é generoso um sistema financeiro que cobra juros de 200 ou 300 por cento ao ano. Não é generoso um país cujo estado cobra impostos só para sustentar a si próprio, nem são generosos os partidos políticos que desejam poder a qualquer preço, sem pensar que existem para se por a serviço de seu povo.
As leis do país têm sido generosas para quem não merece. As leis penais parecem ter sido feitas, na execução e no processo, para ajudar justamente quem as infringe; a lei da Previdência ainda beneficia quem ganha mais no serviço público; os direitos constitucionais são generosos para quem invade propriedade alheia, para quem impede o direito de ir-e-vir; a organização social é generosamente omissa em relação aos barulhentos, os desordeiros, os que sujam o que é de uso comum, os que desrespeitam as regras de convívio. A nossa generosidade anda com sinais trocados.
Ainda assim apostamos na felicidade futura. Apostamos que um dia todos os corruptos estarão na cadeia; que um dia os políticos vão se considerar empregados a serviço de seu povo; que os jornalistas vão se ater aos fatos; que o estado vai usar a maior parte da arrecadação para prestar bons serviços, que uns e outros vão se respeitar sem ir além do limite de cada um. Vamos sonhar que vai haver muitas lava-jatos nos municípios, nos tribunais, para dissuadir os mal-intencionados. Aí, com esse clima maravilhoso e esse povo generoso, te cuida Finlândia!