Diego Semencio Esteves, irmão do piloto Maicon Semencio Esteves, de 27 anos, relatou, esta manhã, que seu irmão contou, no hospital, ter percebido alterações no avião modelo Neiva EMB-201A, antes de cair e pegar fogo, no último sábado, em uma floresta no distrito de União do Norte, em Peixoto de Azevedo (200 km de Sinop). “Ele saiu de Porto Nacional (Tocantins), parou em Confresa e fez o abastecimento. Durante o trajeto, percebeu algumas alterações. Desceu em uma fazenda, ligou para patrão e disse que o óleo estava aquecendo e algumas questões técnicas que só ele saberá esclarecer direito. Decolou de novo, rodou algumas vezes envolta dessa fazenda. Não surgiu nada de novo e, então, seguiu viagem. Chegando próximo a Peixoto percebeu um ‘probleminha’, uma pane no motor, viu que iria cair, escolheu uma copa de uma árvore e jogou [o avião] lá. Na hora que bateu rodou, pegou um pouco de fogo e ele saiu correndo”, contou Esteves, que reside no Paraná e está em Sorriso acompanhando o irmão.
Anteriormente, o proprietário do avião agrícola, Nelcir Mauro Formehl, confirmou que a aeronave estava sendo levada para ser avaliada em uma possível venda em Alta Floresta, mas acabou caindo e pegando fogo. “Esse avião foi comprado no ano passado e foi feita toda a revisão dele, mas não havíamos lançado ainda no sistema [da Anac]. Estava parado no Rio Grande do Sul, mas fizemos todas as revisões. Ele estava sendo levado para um possível comprador. Era um translado para venda”, explicou Nelcir Formehl, ao Só Notícias. Segundo consta no Registro Aeronáutico Brasileiro, a aeronave estava com o Certificado de Aeronavegabilidade (CA) cancelado. O procedimento não havia sido renovado desde setembro de 2010.
Maicon teve queimaduras na face, braços, ficou 3 dias na mata, comendo apenas bolacha e foi encontrado nesta 4ª feira à tarde, por equipes de buscas, às margens de um riacho, muito debilitado. Ele foi transferido, ontem à tarde, do Hospital Regional de Peixoto para uma unidade particular em Sorriso. Segundo consta no boletim médico divulgado hoje, ele encontra-se Unidade de Terapia Intensiva (UTI) desde à noite. “Acordado, lucido, alimentando por via oral, respirando espontaneamente com a ajuda de oxigênio. Está com insuficiência renal em melhora, sem indicação para terapia dialítica de momento. Teve 25% da superfície corpórea queimada – membros superiores, face e abdômen – com zonas de 2 e 3 graus”. Não foi informado quantos dias ainda ficará hospitalizado.
Ontem, o clínico geral do Hospital Regional de Peixoto, José Agnaldo Paranhos Solto disse, em entrevista, ao Só Notícias, que o piloto não resistiria mais um dia na floresta onde foi resgatado. “Chegou muito debilitado e desidratado com múltiplas lesões nos membros superiores e no rosto causadas tanto pela explosão quanto do sol. Apresentava algumas lesões de necrose do tecido. Se ele tivesse sido encontrado hoje estaria morto. Provavelmente não aguentaria passar mais uma noite na mata. A função renal dele já estava bastante comprometida. Chegou com a creatinina elevada, sinal de desidratação e insuficiência renal. Se continuasse na mata, no máximo de 6 a 8 horas entraria em choque e seria muito difícil reverter a situação”, explicou o médico.
De acordo com os bombeiros de Colíder, que participaram das buscas relataram que Maicon sobreviveu comendo bolachas e usava o capacete para se proteger de insetos (principalmente à noite) e espinhos enquanto andava. Os militares também contaram que Maicon conseguiu notar, instantes antes da queda, que havia uma estrada próxima da mata e relatou ter usado o celular, mas a bússola indicava um caminho reto pela floresta. Com queimaduras no rosto e braços, ele caminhou pela floresta fechada e relatou, instantes após ter sido encontrado, que era impossível fazer o deslocamento em linha reta, já que é preciso contornar árvores e cipós. Nessas voltas ele se perdeu, não encontrou a estrada e andou muito mais do que esperava andar.
A versão investigada é que Maicon decolou com o avião de Porto Nacional (TO) e seguiria até Alta Floresta. Ele faria duas paradas para abastecer em Confresa e, depois, seria em Matupá (próximo do local onde houve a queda). Após isso, seguiria a Alta Floresta, mas acabou caindo com a aeronave na região de Peixoto.