Ele sobe na bicicleta de pneus largos determinado, o sorriso maroto denuncia um certo nervosismo e o equilíbrio é um obstáculo a ser vencido, mas a energia emanada pelos amigos ao redor lhe impulsiona. A frente um amigo bate palmas e chama, norteando o ciclista que, sozinho, pedala, dando algumas voltas. Vitória essa é a palavra. O personagem desta narrativa é um dos atletas cegos da Associação dos Deficientes Visuais e Amigos de Sinop (ADEVAS) que participou do 1º Desafio Pessoal para Iniciantes de 100km realizado ontem (14).
O desafio é pessoal, portanto este não é um evento de competição. A meta dos ciclistas é fazer 100km de pedal no Triangulo das Bermudas da Brígida. São 6 voltas, cada uma com 16,6 km, em estrada de terra, com altos e baixos e com muito sol. A expectativa é que atletas experientes façam cada volta em 30 ou 40 minutos, já os iniciantes fazem a mesma volta em uma hora ou até mais, portanto espera-se que o desafio siga até o meio dia.
Mais de 170 ciclistas se reuniram no salão da Brígida para a largada que aconteceu pontualmente as 6 horas da manhã. Entre os atletas, grande parte de Sinop, estavam representantes de Sorriso, Alta Floresta, Guarantã do Norte, Matupá e Feliz Natal. A maioria escolheu o pedal como esporte e pratica durante a noite ou fins de semana. A média de idade era de 20 a 40 anos, mas também participaram crianças, adolescentes e idosos.
Seis atletas da ADEVAS também marcaram presença. Para garantir a participação deles uma bicicleta especial estava no trecho, ela é formada por dois guidões, dois bancos e 4 pedais. Na frente ia um ciclista experiente e na bike de trás um atleta com Deficiência Visual. Cada atleta completou uma volta de 16 km do Triangulo das Bermudas e conquistou uma medalha do desafio pessoal.
Mais do que um desafio de pedal a participação destes atletas mostra a total superação da deficiência e a alegria de viver estampada nos rostos de cada um. Ao lado deles a sensação é de sermos tão fracos e limitados, e é a força deles que impulsiona muitos dos atletas.
Além da turma da Adevas, que recebeu parte da renda deste evento para investir em mais bicicletas adaptadas e inserir os atletas em provas regionais e até nacionais, o Desafio contou com outras histórias de superação.
Como a idosa Cedila que mergulhou neste universo e tem praticado o esporte e deixado muito adolescente no chinelo com seu desempenho. No domingo ela completou os 100km do Desafio logo depois de ter completado 200 km do Pedal da Fé na sexta-feira.
E tão emocionante como as histórias individuais uma das maiores belezas do Desafio Pessoal para Iniciantes de 100 km foi a equipe de organização e de voluntários que fizeram este evento acontecer. No caso de Dona Cedila durante todo o percurso ela foi acompanhada por “anjos”. Os Anjos são ciclistas experientes que estavam participando da prova, fazendo vácuo para os ciclistas participantes não sentissem muito a força do vento, dando apoio aos ciclistas iniciantes lhes motivando ou apenas estando ali, ao lado dos atletas, acompanhando eles para que, se algum problema surgisse, eles não estivessem sozinhos.
Durante toda manhã foram distribuídos isotônico, água, frutas e doces para os atletas reporem as energias e se hidratarem. Uma equipe de mecânicos ficou a postos dando reparos nas bikes que por um motivo ou outro saiam danificadas do trajeto. Homens do Corpo de Bombeiros, do Tiro de Guerra, da Guarda de Trânsito e da Polícia Militar deram apoio a prova e estiveram espalhados pelo percurso em pontos de apoio para os ciclistas.
Fim do Desafio! Alguns atletas fizeram os 100km, outros 83 km, outros 66 km, alguns ficaram em 17 km, não importa, todos ganharam suas medalhas porque, de uma forma ou de outra, desafios foram superados e muitas lições de amor foram dadas. Volto para casa com a alma lavada, por ter visto um esporte tirando o melhor dos seres humanos, não apenas nos desafios pessoais de cada um, mas na imensa troca de camaradagem, de cortesia, de motivação e de carinho que vi entre os atletas. Que venham outras provas como esta, foi lindo !