Minha ligação com o mundo empresarial é uma herança de família. Nas memórias de infância tenho um registro que resume o principal valor que eu atribuo ao setor de comércio e serviços: a confiança.
Meu pai era dono de um hotel na cidade de Palmital, interior do Paraná. Eu, menino, ficava por ali acompanhando a movimentação, atento a quem entrava e saia. Na cidade, naquela época, não existia agência bancária. Os produtores se hospedavam lá quando vinham dos sítios e fazendas vender sua produção e recebiam sacos de dinheiro como pagamento pelos produtos que entregavam. Não tendo local mais adequado, “depositavam” o resultado dos seus trabalhos no hotel do meu pai. Ele mantinha uma sala especial onde os sacos de dinheiro ficavam identificados e guardados para quando os respectivos donos precisassem usar. Poderia ser cena de filme, mas não era ficção a relação de confiança construída entre meu pai e seus clientes.
Não importa quão veloz e moderno tenha ficado o mundo, esse é um valor perene e determinante para a permanência ou o fim de uma empresa. A confiança impacta nas relações de negócios muito além da relação empresa e cliente. A confiança no mercado, ou a falta dela, determina o resultado das operações na bolsa e a cotação do dólar. E se acontece com a macroeconomia, basta olharmos ao nosso redor para entender o quanto nos afeta em todas as escalas.
As micro e pequenas empresas foram responsáveis pela geração de 47,4 mil empregos no país em março. Esse número corresponde a 84% do total de postos de trabalho criados no mês, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego. É um resultado maravilhoso e que mostra a pujança das micro e pequenas para a economia. Mas Mato Grosso teve saldo negativo. Por aqui ocorreram mais demissões que contratações nesse período.
Hoje, a frente da primeira entidade empresarial de Cuiabá, eu acredito que mais do que criar novas empresas, precisamos salvar e manter as que já existem. Os empresários estão endividados, o mercado está difícil, a crise ainda não foi superada, mas as micro e pequenas empresas são capazes de reverter esse jogo e fazer a economia voltar a crescer. E sabe onde elas estão? Perto de você. É o comércio da sua cidade, as lojas do seu bairro, os empresários que investem na região e podem contratar aquele amigo, vizinho ou parente que há tanto tempo procura um emprego. Lembre-se disso quando for comprar seu presente para o dia dos pais ou para qualquer data comemorativa.
Acredite e confie no comércio local porque uma venda pode significar a chance de salvar uma empresa, de criar uma nova vaga de emprego, de gerar oportunidades para um pai de família, uma mãe de família ou um jovem que pretende formar sua própria família. O seu voto de confiança no comércio local, agora, pode ser o motor para a geração de outras histórias e memórias como as que tenho do meu pai, que mesmo sendo relacionadas a sacos de dinheiro, nunca vão ter preço porque são relacionadas a valor.
Jonas Alves é presidente da Associação Comercial e Empresarial de Cuiabá (ACC) e da Federação das Associações Comerciais e Empresariais de Mato Grosso (Facmat)