Em seu interrogatório, já nesta madrugada, o cabo da Polícia Militar, Gerson Luiz Ferreira Corrêa Júnior, réu em processo criminal juntamente com outros 4 policiais, confessou que participou do esquema de escutas clandestinas que ficou conhecido como “grampolândia pantaneira”. Ele revelou detalhes de como era operado e afirmou diante do juiz Murilo de Moura Mesquita, da 11ª Vara Criminal Militar, que foi o advogado e ex-secretário chefe da Casa Civil, Paulo Taques, que arcou com as despesas para viabilizar a central de escutas.
Conforme o policial, o objetivo era para fins eleitorais na campanha de 2014, mas somente quando já estava envolvido é que tomou conhecimento disso, pois inicialmente foi informado que seria para investigar policiais suspeitos de envolvimento com tráfico de drogas. Ele revelou ainda que recebeu de Paulo Taques a quantia de R$ 50 mil para comprar os equipamentos necessários para montar a central de interceptações.
“Foi quando eu e Lesco deslocamos (em setembro) até um lugar que não sei se é escritório ou comitê de campanha, fomos até o bairro Consil, em uma casa onde Paulo Taques trabalhava, e pegamos os R$ 50 mil, pegamos o dinheiro e começamos a comprar o que precisava. Eu e Torezan montamos o sistema dentro da sala locada para operacionalizar. Com o dinheiro arrumamos tudo e ainda ficou em caixa, quem comparava tudo era eu e Torezan”, revelou Gérson.
O esquema, segundo Gérson, começou em 2014, no período eleitoral quando Paulo Taques era coordenador da campanha do primo, o hoje governador Pedro Taques (PSDB). Conforme o policial, tudo começou no final de julho de 2014 quando ele recebeu uma ligação do coronel Zaqueu Barbosa, na época comandante-geral da Polícia Militar de Mato Grosso.
Também são réus no processo criminal os coronéis da PM Zaqueu Barbosa, Evandro Alexandre Ferraz Lesco e Ronelson Jorge de Barros e o tenente-coronel Januário Antônio Edwiges Batista. Todos foram interrogados na audiência que começou, ontem, às 13h30 e se estendeu pela madrugada. Gérson ficou por último.
Ao ser ouvido, o coronel Zaqueu, ex-chefe da Polícia Militar, negou participação no esquema das escutas. Mas Gérson confessou e afirmou que recebia ordens diretamente dele. “Tudo que eu fiz foi com autorização do meu sub-chefe do Estado maior, o número 3 da Polícia Militar”, afirmou ele ao relatar que no final de julho de 2014 recebeu uma ligação do coronel Zaqueu para ir até o Comando Geral da PM. “Eu estava no Gaeco subordinado ao Coronel Lesco. Compareci e ele me fez uma explanação que queria fazer uma limpeza na instituição e que tinha como missão retirar alguns policiais com desvio de conduta”, revelou o cabo Gérson logo no início de sua confissão para explicar como acabou envolvido na chamada grampolândia.
De acordo com Gerson, o advogado Paulo Taques pagou R$ 50 mil para fazer o sistema Whitron e depois outros R$ 34 mil para fazer o sistema Sentinela. Em seguida, nega que outras pessoas do poder judiciário ou do Ministério Público tenham pedido para ele fazer interceptações.
Conforme Só Notícias já informou, o inquérito instaurado para apurar a participação de militares no suposto esquema de escutas clandestinas no âmbito da Polícia Militar confirmou a existência de um ‘Núcleo de Inteligência’ que operava uma central de interceptações telefônicas clandestinas na PM desde outubro de 2014, com o intuito de obter informações privilegiadas. Foram ‘grampeadas’ pelo menos mil pessoas entre políticos, advogados, jornalistas e servidores. São acusados de participarem do núcleo, os três coronéis Zaqueu Barbosa, Evandro Lesco e Ronelson Barros e o tenente-coronel Januário Batista, e o cabo Gerson Correa Junior.
De acordo com o inquérito, o núcleo existia desde a campanha eleitoral de 2014 e era operado pela internet. Além disso, os militares tinham um grupo de WhatsApp com o nome Sentinela, onde conversavam sobre as escutas. Ainda conforme o inquérito, todas as interceptações gravadas eram salvas em pastas nomeadas como ‘Charlie Mike’ que fazem referência a Casa Militar de acordo com o jargão policial. As interceptações só foram encerradas em outubro de 2015, ocasião em que o núcleo foi desmontado, conforme concluiu o inquérito. Neste mesmo dia, o ex-secretário de Segurança Pública (Sesp), promotor de Justiça Mauro Zaque, fez a primeira denúncia ao governador Pedro Taques (PSDB) sobre o esquema de arapongagem em Mato Grosso. O inquérito apontou ainda que não há registro das gravações.