Poucos temas já mereceram tantas discussões como meio ambiente mundial a partir da primeira conferência mundial em Estocolmo, Suécia, em 1972. No mesmo período o Brasil experimentava ocupar e produzir grãos no bioma cerrado, até então um grande desconhecido e desprezado. Foi uma das grandes aventuras brasileiras no século. Podemos até associar que a humanidade sempre caminhou na direção de terras férteis ou na tomada ou na formação de impérios dependentes de alimentos. De certo modo a ocupação dos cerrados lembra essa jornada humana no planeta ao longo dos últimos 5 mil anos.
Mato Grosso com seus três biomas, pantanal, floresta e o cerrado já teve dificuldades de conciliar os desafios econômicos e os desafios ambientais. No primeiro momento, houve conflitos no cerrado e na floresta que desaguaram no conceito de que seria mais importante conservar do que produzir. A história humana tem mostrado que os animais que sobreviveram são os que conseguiram modificar a natureza a seu favor. Foi o que aconteceu com o cerrado. O produto da terra é quem garante a sobrevivência humana desde a pré-história. A floresta conciliou mais cedo o paradigma produzir versus conservar. Regras ambientais muito duras produziram o equilíbrio devido.
O cerrado está no centro das discussões mundiais. De um lado, o crescimento populacional acelerado e urbanização como fenômeno civilizatório, puxado pela China a partir de 2000 e no futuro próximo pela Índia e outros países asiáticos, será a metade da população mundial. Espera-se que em 2050 mais de 6 bilhões dos 9 bilhões de habitantes do planeta vivam em cidades. Com empregos melhor remunerados, maior consumo de bens e de comida, a metade asiática da população mundial demandará alimentos em quantidades crescentes. Na década de 1970 seria um desafio conciliar essa oportunidade econômica mundial aberta ao Brasil com a produção de grãos, fibras e carnes.
Hoje não mais. Conciliamos terra, produtividade altíssima, tecnologias, empreendedores maduros e consciência sobre o convívio homem-economia-meio ambiente e sobrevivência do planeta. Talvez esta seja uma conquista tão importante quanto as tecnologias digitais. Gerações já se sucederam na produção de grãos, fibras e carnes em Mato Grosso. Com 63% de sua área preservada, respeitando os biomas floresta e pantanal, nos tornamos um conhecido exemplo mundial de sustentabilidade ambiental. A maior produção nacional e uma cultura preservacionista que as gerações mais novas dos primeiros produtores aprendem no mundo todo em MBAs, em mestrados, em doutorados, nas relações comerciais diárias e nas restritivas políticas mundiais de compra de alimentos baseadas nesse valor de planeta.
Mas aqui vale a pena lembrar e sempre repetir, nada disso tudo é mais importante que o clima, é ele, o clima que nos da todas estas possibilidades e pujança, nada do fizemos até agora seria possível se estivéssemos em um deserto, por isso obedecer às leis e preservar é tão importante.
Vivemos um tempo moderno. O programa da Aprosoja “Guardião das Águas” acabou de levantar que 90% das nascentes em áreas de plantio de milho e de soja, estão conservadas. O Mato Grosso de hoje alia altíssima produção, produtividade invejável, tecnologia, conservação, recuperação e preservação estratégica do meio ambiente que em nenhum outro país do mundo acontece.
Por 20 meses conciliei as funções de vice-governador e a de secretário de Estado do Meio Ambiente no Governo estadual. O cenário interno era de conflitos e de contradições sobre o tema. De um lado a demanda econômica e de outras interpretações legais. A maioria burocráticas. Contratei a respeitada Consultora Falconi e revimos todos os processos burocráticos e racionalizamos as operações em prazos aceitáveis sem desrespeitar leis e normas. É possível conciliar interesses públicos e privados com bom senso em beneficio de ambos.
Como um homem que veio do campo, trago a herança de olhar para safra do ano seguinte com o olhar do futuro. O meu olhar é de otimismo para o futuro econômico e ambiental. Paralelo à produção em Mato Grosso, gerações jovens educadas nas melhores universidades e escolas garantem que o planeta estará mais saudável a cada nova safra. Com ele, a vida humana, apesar do crescimento populacional e da demanda por mais e mais alimentos. Mato Grosso é um exemplo para o mundo. Me orgulho de pertencer a essa geração que abriu e construiu esse cenário de vida!
Carlos Fávaro é presidente regional do PSD e ex-vice-governador de Mato Grosso