A Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato) participou da reunião Extraordinária da Comissão Nacional de Bovinocultura de Corte (CNBC), realizada na sede Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em Brasília, que tratou dos impactos dessa delação para o mercado e para a produção de carne bovina.
De acordo com o presidente da CNA, João Martins da Silva Júnior, por ser a maior processadora de carne do país e enfrentar pendências judiciais, essa situação causa incerteza no mercado. “Com isso, é impossível saber que efeito a situação do JBS pode ter sobre a cadeia produtiva de carne bovina, no entanto, o setor precisa passar por uma mudança estrutural de mercado e para isso é preciso uma atenção especial”, disse.
Conforme o presidente da Famato Normando Corral, em Mato Grosso, onde está o maior rebanho do Brasil, o JBS responde por 51% dos abates, evidenciando a importância da empresa na pecuária de corte mato-grossense. Corral apresentou um estudo realizado pelo Instituo Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea). O trabalho mostra que existem 34 plantas frigoríficas instaladas, dessas 16 são do JBS. Dos 25 frigoríficos que estão ativos, 11 são do JBS.
Conforme o estudo, a JBS dispõe de uma capacidade de abate de 14 mil cabeças por dia, representando 51% da capacidade do estado. Se o frigorífico Marfrig, que é o segundo maior, dobrar sua capacidade, vai chegar na metade da capacidade do JBS.
A especialista em análise de risco de mercado da Consultoria Agrifatto, Lygia Pimentel fez uma avaliação inicial sobre a situação do JBS, após a delação premiada dos executivos da empresa. A preocupação da analista é a dívida da empresa estimada em R$ 58,4 bilhões, sendo que o vencimento de curto prazo (outubro de 2017) é de R$ 18 bilhões.
No momento, com o estancamento dos empréstimos dos bancos, o grupo está tendo que se desfazer de algumas empresas como, por exemplo, a venda dos ativos Mercosul. Porém o valor arrecadado, por volta de R$ 1 bilhão, somado ao valor de caixa R$ 10 bilhões, ainda não são suficientes para quitar a dívida até outubro. “Sendo assim, eu sugiro aos pecuaristas que as vendas sejam feitas à vista. Caso não consigam à vista, vendam para a concorrência ou vendam em lotes menores”, apontou Lygia.
Lygia ainda sugeriu aos estados algumas ações mitigadoras como, por exemplo, negociações conjuntas com a exigência de garantias contratuais mínimas nos casos de venda a prazo, formação de cooperativas de crédito e nomeação de representantes junto ao CADE para evitar abuso de poder de compra.
Também participaram da reunião o presidente da CNBC Antônio Pitangui de Salvo, o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) José Mário Schreiner e o vice-presidente Federação da Agricultura e Pecuária do Rio Grande do Sul (Farsul) Gideão Silveira Ferreira. Representantes de outras Federações do Brasil também acompanharam a reunião por meio de videoconferência.