A sexta-feira foi dia de novo relatório mensal de oferta e demanda do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) e o mercado internacional da soja, que vinha ansioso pelos números, parece ter encerrado a semana sem dar muita atenção à poucas novidades reportadas no boletim. “Avalio o relatório como de neutro a negativo, mas é o tipo ‘não evento’, o que vai valer mesmo é o clima nos EUA”, explicou o economista e analista de mercado da Granoeste Corretora de Cereais, Camilo Motter.
Entre os poucos destaques trazidos para a soja vieram os estoques finais de soja acima do esperado tanto nos números da safra velha, quanto da safra nova para o quadro dos Estados Unidos. Da safra 2016/17, os números foram estimados em 12,25 milhões de toneladas, contra a média esperada pelo mercado de 11,76 milhões. Já da 2017/18, de 13,47 milhões, contra média de 13,55 milhões. Em maio, os números vieram em, respectivamente, 11,84 e 13,06 milhões de toneladas.
Ao mesmo tempo, o departamento não corrigiu suas exportações – o que vinha sendo esperado por alguns analistas e consultores – e manteve o total ainda em 55,79 milhões de toneladas.
Por outro lado, aumentou a produção de soja do Brasil para 114 milhões de toneladas, estoques finais nacionais para 25 milhões e as exportações para 62,4 milhões de toneladas. Assim, a safra mundial 2016/17 foi elevada para 351,31 milhões de toneladas.
O boletim de junho é, geralmente, um relatório de menos impacto sobre as cotações, já que trata-se de um mês onde ainda há muita incerteza, o plantio está sendo concluídos e as lavouras iniciando seus desenvolvimento nos Estados Unidos.
“Nem o clima é decisivo nessa fase do ano”, diz Motter. “Agora, julho, agosto e setembro são mais decisivos. O relatório de hoje apenas desviou momentaneamente as atenções em relação ao clima (no Meio-Oeste americano)”, completa o analista.
E foi justamente a especulação sobre o clima no Corn Belt que deu espaço para uma alta acumulado na semana de mais de 2% entre as principais posições da soja negociadas na Bolsa de Chicago. O contrato julho/17 – que ainda é o driver do mercado internacional e fechou com mais de 120 mil contratos negociados – ficou em US$ 9,41 por bushel. A referência para a safra americana – o vencimento novembro/17 – foi a US$ 9,25.
“Os fundos entraram a semana ainda vendidos e foram cobrindo suas posições diante de uma clima mais quente e seco no Meio-Oeste americano”, disse o analista de mercado Bob Burgdorfer, do portal internacional Farm Futures. “E para esta próxima semana, já há nas previsões uma onda de calor para os EUA, a qual deve chegar neste domingo e durar, ao menos, até quarta-feira, de acordo como Serviço Nacional de Clima dos EUA”, completa.
As informações de demanda também se destacaram nesta semana. Nesta quinta-feira (8), foram divulgadas as informações de que, em maio, a China importou 25% mais soja do que no mesmo mês de 2016, confirmando a força de seu consumo com compras recordes de 9,59 milhões de toneladas. No acumulado da temporada, os chineses já importaram mais de 37 milhões.
E como explica o analista de mercado da OTCex Group, de Genebra na Suíça, além do bom consumo da nação asiática, outros players asiáticos também entram no mercado comprando soja de forma bastante expressiva.
Nesta sexta, o USDA trouxe o anúncio de uma nova venda da safra 2016/17 de 201 mil toneladas de soja em grão, totalizando um volume acumulado de 321 mil somente nesta semana, via anúncios diários. Em seu reporte semanal de vendas para exportação, o total comprometido da oleaginosa pelos EUA já chega a mais de 58,5 milhões de toneladas. Os embarques americanos também caminham bem e passam de 53 milhões.
Mercado no Brasil
No Brasil, a semana também foi muito positivo para a formação dos preços da soja. Segundo levantamento do economista André Bitencourt Lopes, do Notícias Agrícolas, as cotações subiram até R$ 3,20 por saca no interior do país. O produto disponível nos portos fechou a semana com R$ 70 por saca e ganhos acumulados de mais de 3%. Nos melhores momentos da semana, as cotações alcançaram até entre R$ 70,50 e R$ 71 por saca dependendo do prazo de pagamento e condições de entrega.
“O mercado (no Brasil) andou, relativamente, bem. Foi uma semana de boa movimentação, o produtor aproveitou para vender. Tivemos Chicago em alta a semana inteira, o dólar ajudando em alguns momentos, e isso auxiliou o mercado durante a semana. Na semana, algo entre 100 mil e 200 mil toneladas foram negociadas nos portos do Sul, algo entre 500 mil e 700 mil no acumulado da semana”, relata Miguel Biegai.
O dólar, no acumulado da semana, alcançou uma alta de 1,15% e fechou com R$ 3,2921, subindo, somente nesta sexta-feira (9), 0,82%. “O mercado está um pouco mais tranquilo com a perspectiva de que Temer não vai ser cassado. Mas há muitas coisas no cenário”, afirmou o analista de câmbio da corretora Fair, José Roberto Carrera à agência de notícias Reuters.
O julgamento sobre a cassação da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) continuava na noite desta sexta-feira, após quase uma semana de discussões e sessões consecutivas. O resultado sai entre o final do dia e da semana.