Realizando somente compras no prazo com 30 dias e sendo a única unidade de abate em muitas regiões do país, pecuaristas estão sem alternativa de venda à JBS e amargam prejuízos. “Em grande parte dos estados ainda há capacidade de suporte por mais 30 a 40 dias. O problema é que temos os custos fixos e precisamos vender”, lamenta o pecuarista Marcos da Rosa, que possui propriedade na região do Alto Araguaia (MT).
Com o que se vende hoje não é possível, sequer, fazer a reposição. O produtor usa parte do valor para saldar suas dívidas, e não repõe 100% do rebanho mesmo com a cotação do boi magro e bezerro caindo, acrescenta Rosa.
No início da semana, veio à tona a informação de que os pecuaristas estavam pedindo antecipação dos pagamentos a prazo, temerosos pela saúde financeira da JBS, envolvida em uma série de escândalos de corrupção. Já na última quarta-feira, a empresa informou a seus fornecedores a suspensão da compra de novos lotes à vista, obrigando os produtores a solicitarem antecipação do recebimento junto ao Banco Original (pertencente à Holding J&F, dona da JBS), mediante a cobrança da Nota Promissória Rural (NPR), no valor de 3,1% ao mês.
Embora as pastagens ainda permitam a manutenção do gado na fazenda com custo menor, muitos produtores já operavam no vermelho desde a operação Carne Fraca, em abril. O preço do boi gordo chegou a recuar mais de 10%, recuperando parte das perdas de lá para cá, mas ainda abaixo do praticado no início do ano.
O problema é que além dos preços defasados do boi gordo, a recente volta da cobrança do Funrural (Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural), e o desconto do NPR [caso queiram evitar o risco de receber no prazo], o setor se depara com a falta de opção de venda. Em Mato Grosso, estado com maior rebanho, ao menos quatro regiões são dependentes das operações da JBS.
“Temos duas realidades hoje: uma dos produtores com propriedades localizadas em região de atuação exclusiva da JBS”, portanto, sem alternativa de abate. Além de receber a prazo, ou ter o desconto de 3,1%. E a outra, daqueles que “tem mais abatedouros nas mediações, porém, que também não conseguem vender por falta de demanda”, explica Rosa.
Os meses de maio e junho são tipicamente conhecidos como ‘fundo de safra’, onde a aproximação com o inverno danifica as pastagens e ocorre a desova de animais. Por esse fator de maior oferta, e também porque a demanda caminha a passos lentos, as indústrias frigoríficas não tem interesse de absorver a demanda excedente dos que não querem vender para a JBS. A ordem nesse momento é evitar a formação de estoques e o derretimento nos preços da carne.
O pecuarista, portanto, se vê no olho do furacão. Temendo que a detentora de 1/4 da demanda nacional de abates tenha sua funcionalidade afetada pelas investigações, ao passo que também precisa entregar seus animais em valores pouco remuneradores, pela necessidade de liquidar os custos fixos.
Apesar de toda preocupação em torno da JBS e seus riscos para economia brasileira, sobretudo a pecuária, muitos analistas têm se mostrado otimista frente à sobrevivência da empresa. Na visão do pesquisador do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), Sérgio De Zen, embora as essas notícias depreciem o valor da Companhia, é possível separar neste momento as ações enquanto empresa, das atitudes isoladas dos irmãos Batista.
Na sexta (19) um conteúdo divulgado pelo jornal Folha de S.Paulo, informou que analistas e executivos de bancos com conhecimento dos números da JBS vêem como baixo o risco de a companhia deixar de honrar pagamentos a seus credores no curto prazo.
A JBS contaria com descolamento entre a imagem do conglomerado e de suas marcas no exterior, de onde vem sua maior fonte de renda, para blindar a operação e evitar queda nas receitas. Nos EUA é dona, por exemplo, da Pilgrim’s Pride, da Swift e agora da Plumrose.
No Brasil, o analista da MBAgro, César de Castro Alves, diz acreditar ser improvável que o setor de proteína animal passe a operar sem a JBS.